A valorização cada vez maior de produtos naturais e orgânicos está impulsionando o uso da cera de carnaúba em diversas indústrias, inclusive a cosmética, segundo análise feita pela empresa norte-americana Transparency Market Research.

A matéria-prima é uma alternativa natural às ceras de parafina e possui propriedades exclusivas, como brilho, alto ponto de fusão e potencial para reter óleo. Desde 2015, a Lush Brasil usa a cera na fabricação de seus produtos. Ela está presente nas formulações de bálsamos labiais, batons, máscaras para cílios e ceras para bigode. “Além de ser um ingrediente 100% vegetal, a cera de carnaúba ajuda na estabilização das fórmulas, e cria uma textura suficientemente densa para tinturas e maquiagens para os lábios, sem conferir um odor desagradável ou uma rigidez excessiva”, explica Renata Pagliarussi, diretora-geral da Lush Brasil.

Bálsamo Labial Lush Rose Lollipop

Quando misturada com outros ingredientes – como a manteiga de cacau – é possível atribuir uma textura mais densa ao produto, o que pode ser observado em bálsamos e tinturas labiais”, acrescenta a executiva. Além do brilho natural, o ingrediente cria uma camada protetora, o que potencializa seu uso em máscaras para cílios e ceras para bigode. A cera pode ser empregada também em medicamentos, embalagens e na indústria automobilística.

A cera de carnaúba é extraída das folhas da palmeira Copernícia prunífera, uma árvore brasileira que cresce às margens de rios do Nordeste brasileiro, especialmente no Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. É possível encontrar as carnaubeiras também no Maranhão, Bahia (no vale do rio São Francisco), Pernambuco e Paraíba, mas mais da metade da cadeia produtiva é desenvolvida no Ceará, segundo o Sindicato das Indústrias Refinadoras da Cera de Carnaúba do Estado do Ceará (Sindcarnaúba).

O processo de extração é composto por cinco passos, da coleta da matéria-prima bruta até seu processamento, de acordo com a Carnaúba do Brasil, uma indústria de beneficiamento de cera de carnaúba. A coleta das folhas verdes é feita de julho a fevereiro. O corte da palha é realizado por um vareiro que, com a ajuda de uma vara comprida com uma foice na ponta, corta o talo da folha. “Porém, nem todas as folhas devem ser cortadas para não colocar a vida da planta em risco”, acrescenta Pagliarussi.

Em seguida, as folhas são colocadas para secar em chão batido ou secador solar. A palha seca solta um pó que é cozido e coado em grandes prensas de madeira ou processado por extratores à base de solventes. O resfriamento é feito em tanques rasos, gerando um produto maciço que, na sequência, é quebrado em pedras de cor amarelo-esverdeada ou marrom escura. É a cera bruta, pronta para o beneficiamento, que será derretida em tachos ou autoclaves. O processo é finalizado por uma sucessão de centrifugação, filtração e clareamento.

A presença da cera nas folhas é uma consequência de sua adaptação às regiões secas. Ela dificulta a perda de água por transpiração e protege a planta contra o ataque de fungos”, esclarece Pagliarussi. A Ásia, África Equatorial e alguns países da América do Sul também possuem a árvore, mas o Brasil responde pela maior fatia deste mercado, de acordo com a Transparency Market Research.

Os principais importadores são os EUA, com 26,2% do consumo da carnaúba brasileira, seguidos pelo Japão (16%) e pela Alemanha (15,3%), de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) obtidos junto à Carnaúba do Brasil. Em 2016, o volume total de cera de carnaúba exportada foi de 15,8 mil toneladas, gerando uma receita de US$ 99 milhões. De janeiro a julho deste ano, a exportação foi de 9,33 mil toneladas.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), existem ações para desenvolver novos produtos com a formulação da cera de carnaúba, com o
objetivo de expandir o mercado. Pagliarussi, da Lush, afirma que em breve serão lançados novos cosméticos da marca com este ingrediente.