Antes vista como um diferencial, hoje a sustentabilidade deve ser premissa para a indústria de embalagens, afirma a presidente da ABRE (Associação Brasileira de Embalagem), Gisela Schulzinger. "O grande desafio no Brasil e no mundo é tratar a sustentabilidade como uma questão absolutamente estratégica e transversal. Ela deve constar na proposta de valor", afirma. Para que este conceito seja incorporado de uma forma sistêmica no processo de fabricação, é preciso que os modelos de negócio e a lógica de competitividade sejam pensados a partir da sustentabilidade, argumenta Schulzinger.

Gisela Schulzinger, presidente da ABRE

As embalagens são a parte da cadeia de cosméticos e produtos de higiene pessoal em que a sustentabilidade é mais visível ao consumidor. No mundo, iniciativas como plásticos biodegradáveis, que facilitam a reciclagem, e materiais inovadores estão redesenhando a maneira como os produtos são embalados. Um deles é a madeira biônica, desenvolvida pela startup francesa WooDoo, que promete resistência total à água, rigidez 300% maior que a madeira natural, retardamento do fogo e translucidez.

No Brasil, em consonância com as práticas desenvolvidas em outros países, a Unilever afirma ter remodelado a estratégia de negócio a partir da sustentabilidade. A nova forma de pensar os produtos e processos começou em 2010. Dentre os compromissos estabelecidos estão reduzir em um terço o peso das embalagens até 2020; ter 100% das embalagens de plástico recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis até 2025 e aumentar em ao menos 25% a utilização de plástico reciclado nas embalagens até 2025.

Na categoria de cuidados pessoais, as marcas de produtos da Unilever para os cabelos iniciaram a agenda de redução de resíduos sólidos. Os frascos do xampu Seda Pretos Luminosos passaram a ser feitos com pelo menos um terço de plástico reciclado pós-consumo, ou seja, material proveniente dos resíduos descartados pelos consumidores. As embalagens são 100% recicláveis.

Na linha TRESemmé, todo o portfólio da marca foi relançado, com novas embalagens que utilizam 20% menos plástico em comparação com as anteriores. Segundo a Unilever, com a mudança, a embalagem se tornou uma das mais leves do mercado e deixou de usar 382 toneladas de plástico por ano. A redução também representou 281 caminhões a menos rodando nas cidades ao longo do ano e, consequentemente, redução nas emissões de CO2. Já os condicionadores da marca Dove foram lançados em tubos feitos com 100% de plástico verde, originado da cana-de-açúcar.

Um levantamento divulgado em julho pelo Instituto Akatu mostrou redução na indiferença dos consumidores brasileiros em relação ao tipo de consumo praticado. O segmento de consumidores "iniciantes", isto é, que estão começando a se preocupar com o consumo consciente, subiu de 32% em 2012 para 38% em 2018. Segundo a pesquisa, a principal justificativa para a adesão a produtos mais sustentáveis foi a busca por um futuro melhor para a sociedade e o planeta.

Schulzinger pondera que a cultura da sustentabilidade precisa ser explicada aos consumidores. "A indústria de cosméticos tem que dar a informação ao consumidor e trazê-lo para perto, pois as pessoas não sabem como são os processos e não entendem as limitações. Um dos desafios do setor é educar, explicar e abandonar uma postura defensiva". Ela exemplifica as dificuldades encontradas nos materiais, nos processos e na logística. "Nunca teremos o ideal de 100% de sustentabilidade porque existem outras questões de que o próprio consumidor não quer abrir mão, como a maior durabilidade do produto. Se ele tem este conhecimento, pode avaliar se quer abrir mão de certos benefícios em prol de um item sustentável".