O mercado de cuidados pessoais e cosméticos para bebês e crianças está em contínua expansão, mas a burocracia envolvida na regulamentação e a pouca oferta de insumos orgânicos representam desafios para o setor, segundo representantes deste segmento.

O valor de vendas da categoria cresceu 52% entre 2011 e 2016, movimentando R$ 4,85 bilhões no ano passado, de acordo com a Euromonitor. O crescimento médio por ano foi de 9%. Até 2021, a consultoria estima que este mercado atinja o patamar de R$ 6,1 bilhões em vendas, sem considerar a inflação.

Maria Claudia Pontes, diretora-regional da Weleda Brasil

Maria Claudia Pontes, diretora-regional da Weleda Brasil

Produtos infantis de cuidados com os cabelos puxaram o crescimento em 2016, com uma participação de 27% no total de vendas. Segundo a Euromonitor, o desempenho pode ser explicado pela variedade de lançamentos de marcas licenciadas, como Barbie, Bob Esponja e Snoopy. Além disso, a categoria ganhou novas versões, como produtos específicos para cabelos cacheados, seguindo as tendências observadas em xampus e condicionadores para adultos.

Os cosméticos infantis, porém, devem contar com atributos especiais para atender às necessidades deste público. “A pele do bebê chega a ser cinco vezes mais fina que a de um adulto e isso significa que a absorção das substâncias aplicadas externamente acontece de forma mais rápida. Durante a produção de um cosmético para bebês é importante selecionar ingredientes de alta qualidade, sem adição de conservantes, corantes e fragrâncias artificiais, além de utilizar apenas óleos vegetais”, explica a diretora-regional da Weleda Brasil, Maria Claudia Pontes.

O portfólio da marca voltado para este mercado inclui creme para assaduras; gel dental sem flúor, desenvolvido especialmente para dentes de leite; xampu, sabonete vegetal e sabonete líquido; banho hidratante, recomendado para recém-nascidos; óleo hidratante vegetal e creme facial. A Weleda afirma utilizar mais de 500 diferentes matérias-primas e as linhas levam o nome das “plantas-líderes”, que são o principal princípio ativo de cada produto. A calêndula é a planta-líder da linha de bebês e seu extrato está presente em todos os produtos. “Além disso, utilizamos apenas puros óleos de origem 100% vegetal, incluindo amêndoa, jojoba, gergelim e gérmen de trigo. Outros ingredientes comuns em nossos produtos são a lanolina – a gordura da lã da ovelha, compatível com a pele do ser humano – e a cera de abelha, que cria uma barreira física de proteção”, descreve Pontes.

Apesar do crescimento nos últimos cinco anos, a executiva afirma que o mercado de higiene pessoal infantil ainda é dominado pela indústria de cosméticos convencionais, que utilizam substâncias artificiais e químicas, além de conservantes em sua composição. “Há poucas empresas produzindo esta categoria, o que gera baixo volume e, consequentemente, carência de fornecedores especializados em insumos orgânicos. Os poucos que existem não têm escala suficiente para garantir um preço mais competitivo nas prateleiras”, diz Pontes. “Ou seja, o consumidor geralmente desconhece o verdadeiro orgânico. Quando compara os preços de um produto químico, mesmo que se autointitule natural, não reconhece o valor e a importância desta categoria, que acaba custando em media 20% acima dos produtos existentes.

Devido às características e necessidades das crianças, este mercado possui normas próprias, como explica a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). Os produtos contêm restrições específicas de substâncias em sua composição para reduzir o risco de sensibilização. Segundo a ABIHPEC, o processo atual de regularização sanitária desses itens leva, em média, seis meses para produtos novos e ainda mais tempo para alterações de rotulagem. Mas a entidade afirma possuir uma proposta para aprimorar a regularização de produtos infantis, mantendo as normas que garantem a eficácia e a segurança dos itens, mas simplificando os procedimentos burocráticos.