"Se um ingrediente de origem animal não for Halal, ou se contiver álcool, além de seu consumo ser proibido, o produto é considerado impuro, o que significa que não deve ser aplicado no rosto ou na pele", explicava o Xeique Ali Achcar no pequeno estande da HCS, organismo de certificação Halal com sede na Suíça, durante o salão in-cosmetics na semana passada em Paris.
Além do etanol, a lista de produtos proibidos pelo islã contém principalmente substâncias de origem animal (suínos e derivados, animais previamente mortos ou que estiverem agonizando no momento do abate Halal, sangue e seus subprodutos, animais carnívoros, aves de rapina, animais terrestres sem orelhas externas, etc.).
Na prática, várias substâncias podem ser problemáticas para os consumidores muçulmanos que desejam selecionar produtos cosméticos com base nos preceitos da lei islâmica. A lista de ingredientes proibidos pode incluir, entre outros, alantoína, âmbar-cinzento, colágeno, elastina, gelatina, gordura animal e seus derivados, baba de caracol e extrato de cochonilha.
"A maioria dos consumidores não sabe se os produtos contêm ou não ingredientes de origem animal. Por isso, quando veem que um produto tem a certificação Halal, compram sem hesitar", explica Ali Achcar. "Como algumas indústrias usam diversos tipos de ingredientes na mesma fábrica, devemos verificar que existe realmente uma separação entre as atividades, de forma que não haja contaminação cruzada", informa.
A análise dos ingredientes é realizada pela própria equipe científica da HCS. Os preços para a indústria de cosméticos variam entre 1.500 e 2.000 euros, podendo eventualmente ser majorados se a equipe precisar viajar até as fábricas para efetuar a vistoria.
Mercado de 20 bilhões de dólares
Há alguns anos, os cosméticos Halal representavam um mercado de nicho, explorado por um pequeno número de PMEs originárias principalmente de países muçulmanos do Sudeste Asiático, como Indonésia, Malásia e Cingapura. Mas o segmento vem ganhando terreno em ritmo acelerado: em 2014, ele movimentou 20 bilhões de dólares. As estimativas indicam que, até 2019, esse valor deverá alcançar o dobro, representando 6% do mercado mundial de cosméticos, segundo previsão da TechNavio, empresa especializada em análises de tendências.
Esse fenômeno é amplificado pelo fato de "alguns países adotarem legislação que torna obrigatória a certificação Halal em produtos cosméticos que são colocados à venda para o público", explica Monica Ducruet, que trabalha na Givaudan França como responsável por questões relacionadas a normas e regulamentos aplicáveis aos ingredientes cosméticos.
Os grandes nomes do setor já começaram a se adaptar: em entrevista à AFP, a L’Oréal explicou ter obtido a certificação Halal para "centenas de matérias-primas" e para as linhas de produção que abastecem o imenso mercado indonésio, com seus 200 milhões de consumidores muçulmanos.
"O princípio segundo o qual os produtos Halal podem ser rastreados em toda a cadeia de valor constitui (para os consumidores) uma garantia de qualidade", afirma a empresa alemã BASF, número um mundial do setor de produtos químicos, que recentemente obteve a certificação Halal de 145 ingredientes fabricados na Alemanha para a indústria de produtos de beleza e higiene.
"O problema que enfrentamos é a falta de consenso entre os diversos organismos de certificação, que não reconhecem a legitimidade uns dos outros. Alguns países, como a Indonésia, estabeleceram listas de organismos autorizados a emitir a certificação Halal, mas é difícil obter uma certificação que seja reconhecida em vários países", lamenta Monica Ducruet. A título de exemplo, a Alemanha conta com cinco grandes empresas de certificação Halal; alguns países, como Turquia e Irã, dispõem de um sistema estatal. Por isso é essencial que as marcas identifiquem muito bem os mercados nos quais desejam comercializar seus produtos, antes de dar entrada em um processo de certificação.