São quase 150 anos de história e fases bastante distintas na trajetória da Granado. Fundada na cidade do Rio de Janeiro, em 1870, como uma farmácia, a empresa se tornou umas das mais tradicionais no ramo dos cosméticos do país, mas entrou em declínio no final do século passado e beirava a falência na época em que foi comprada pelo inglês Christopher Freeman, em 1994. Junto com a Phebo, outra marca brasileira que andava esquecida e foi adquirida também pelo empresário em 2004, a Granado faturava R$ 400 milhões por ano quando vendeu uma fatia minoritária da empresa para o grupo espanhol Puig, detentor de grifes de moda e perfumes como Carolina Herrera, Nina Ricci, Paco Rabanne e Jean Paul Gaultier.
A empresa não confirma o percentual da venda ou o valor da transação, mas o destino do montante recebido não é segredo. “Vamos reduzir significativamente nossa dívida do empréstimo feito para a construção da nova fábrica em Japeri, a cerca de 75 km da capital do Rio de Janeiro, e poderemos seguir investindo na área fabril e no crescimento da empresa no Brasil e exterior”, afirma Sissi Freeman. Diretora de marketing da Granado/Phebo, ela segue ocupando o mesmo posto dentro da empresa, assim como seu pai, Christopher, presidente da companhia. “A Puig terá um assento no Conselho de Administração e a venda não afetará as operações”, diz Sissi.
Com o negócio realizado com o grupo sediado em Barcelona, que teve um faturamento de mais de € 1,65 bilhão em 2015 – mais da metade vindo de países emergentes –, a Granado quer ampliar o seu número de lojas-conceito, que resgatam o ambiente das antigas boticas. Hoje, a rede conta com cerca de 50 pontos de venda próprios no Brasil, além de distribuição em drogarias, perfumarias e redes de varejo. No mercado internacional, a marca estreou em 2013, com um quiosque na loja de departamento Le Bon Marché, em Paris.
Logo após a confirmação do acordo com a Puig, a empresa anunciou o lançamento de sua primeira coleção de colônias, a Vintage Granado. São três fragrâncias cítricas: a floral Musk e a amadeirada Folha de Laranjeira, desenvolvidas pela perfumista Carmita Magalhães, e a mediterrânea Verbena, assinada por Sophie Truitard, da casa de fragrâncias MANE. “As colônias são atemporais, versáteis e com um toque de contemporaneidade. Elas trazem frescor e leveza para os ingredientes mais clássicos da perfumaria fina”, conta a diretora.
Após a produção, as novas fragrâncias passam por um processo de maceração que dura sete dias, intensificando as notas olfativas. A apresentação da coleção é elegante: o frasco de vidro tem molde exclusivo, válvula dourada e tampa Surlyn. A caixa é rígida e os rótulos têm impressão em alto relevo e ilustrações em estilo art nouveau. Com 300 ml, as colônias são vendidas apenas em suas lojas-conceito por R$ 110 cada. “Nossos clientes pediam por colônias na Granado e esta é uma forma de diferenciar as lojas dos outros pontos de venda”, explica Sissi.
A coleção também resgata um momento histórico da marca. As embalagens e rótulos das colônias mencionam a “Perfumaria Helios”, antiga linha de produtos de luxo da Granado que, na década de 1910, produzia águas de toilette para o público feminino.
De acordo com diretora de marketing, a Granado deve fechar o difícil ano de 2016 para a economia brasileira com crescimento de 12%. Para os próximos anos, os clientes podem esperar por novidades. “Sem dúvidas, usaremos a expertise da Puig para melhorar ainda mais a tecnologia dos nossos produtos”, revela.