Alessandra Tucci, especialista em fragrâncias e sócia-fundadora da Perfumaria Paralela

A busca pelo novo é o que norteia o comportamento dos brasileiros em relação à perfumaria. O país é o maior mercado consumidor de perfumes desde 2010, segundo a consultoria Euromonitor, e é caracterizado pela coexistência de diversos estilos e microtendências. Isso ocorre porque “a velocidade que marca a sociedade de consumo atual torna desafiador prever tendências”, explica Alessandra Tucci, especialista em fragrâncias e fundadora da Perfumaria Paralela, empresa de inovação e estratégia em perfumaria.

De acordo com Tucci, os brasileiros têm uma relação muito diferente com o perfume se comparados aos norte-americanos ou orientais. “Nossa cultura acolhe o perfume como um sinalizador de higiene, beleza, reforço na autoestima e até mesmo uma arma de sedução. Enquanto os orientais são mais discretos e o perfume pode ser visto como invasivo, no Brasil, com bom senso, ele é sempre bem-vindo”.

Algumas tendências se tornam mais expressivas do que outras de acordo com o perfil do consumidor, ela afirma. “No Brasil, elas estão alinhadas com o que acontece na Europa e nos EUA, com grande sucesso dos perfumes florais frescos e que são enriquecidos com frutas, por serem fragrâncias mais casuais, fáceis de agradar”.

Outra microtendência são os perfumes gourmand, com personalidade marcante, adocicados, e que remetem a sobremesas e alimentos como baunilha, nougat, praliné, suspiro, café e chocolate. Segundo Tucci, são aromas que foram incorporados aos perfumes ao longo dos últimos anos e que caíram nas graças de homens e mulheres de diversas gerações. “A baunilha foi totalmente integrada aos perfumes masculinos, assim como as flores e as frutas, cada vez mais presentes, diminuindo a distância entre os gêneros”. Ela afirma que ervas aromáticas com madeiras quentes, toques de chocolate amargo, o contraste entre a menta e o figo – todos ingredientes antes pouco presentes neste universo –, podem agora ser encontrados nos perfumes criados para os homens, mas que muitas vezes são os escolhidos também pelas mulheres.

Interior da Perfumaria Paralela

O aspecto geracional é outro fator que influencia na percepção do consumidor. É o caso dos chipres, perfumes marcantes e austeros que foram reinterpretados para se adequarem às preferências do consumidor moderno. Elaborados a partir da combinação de musgo de carvalho, flores, frutas cítricas e madeira de patchouli, eles ganharam uma dose de frutas, reduzindo o musgo e acrescentando uma pitada de ingredientes gourmand. “O resultado é uma perfumaria mais sofisticada, com perfumes elegantes, duradouros e que não perdem a modernidade”, descreve Tucci.

Com uma grande variação de objetivos e resultados, as fragrâncias passam por desenvolvimentos diferenciados, mas sempre partem de uma inspiração, uma ideia, um desejo ou um briefing. “O perfumista traduz o conceito original em um produto, considerando a marca, o consumidor-alvo e o posicionamento de preços”, explica Tucci. A sofisticação da perfumaria é um desafio para o Brasil, que em 2013 dedicava apenas 7% de seu mercado às fragrâncias premium, segundo um estudo da casa de perfumaria suíça Givaudan.

Dentre as tendências em fragrâncias, a especialista destaca também uma nova maneira de utilizar os perfumes – o layering, muito praticado entre os connoisseurs, vem ganhando popularidade entre os consumidores. “Algumas empresas têm no layering a sua fundação, como é o caso da Jo Malone, que recentemente abriu sua primeira loja no Brasil. A marca incentiva a sobreposição de fragrâncias para chegar a um perfume exclusivo”.

Tucci destaca o amadurecimento acelerado do mercado de fragrâncias brasileiro, com uma demanda crescente e urgência por parte do consumidor em descobrir o que há de mais moderno. Porém, ela pondera que é preciso dar acesso a produtos diferenciados. “Na minha visão, um mercado maduro exige diversidade de canais de distribuição e maior nível de informação. Mas estamos nesse caminho”.