Em 2016, as exportações brasileiras de produtos de beleza caíram mais uma vez, mas o resultado não pegou ninguém de surpresa. A baixa foi de 13,7%, registrando um resultado inferior ao ano anterior, quando as vendas do setor para o mercado externo tiveram queda de 10,3% na comparação com 2014.
“A recessão econômica e as turbulências no cenário político brasileiro enfrentadas nos últimos anos afetaram não apenas o desempenho da indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos no mercado nacional, como também as exportações do país”, afirma Ricardo Nobrega, gerente de comércio exterior da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).
Para ele, a instabilidade do real contribuiu diretamente para o mau desempenho do Brasil nos negócios externos, mas não foi o único fator. Uma pesquisa realizada em 2016 pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) apontou outras barreiras às exportações brasileiras. Foram citadas as tarifas cobradas por portos e aeroportos, as taxas pagas a órgãos federais, a ineficiência governamental no suporte aos exportadores e a dificuldade de praticar preços competitivos fora do país. Contudo, nada superou a questão logística, eleita como principal obstáculo para os empresários brasileiros que vendem ao exterior.
Na lista atual dos dez maiores compradores de cosméticos brasileiros, nove são países latino-americanos – os EUA ocupam a 9ª posição. “Apesar de ainda existir alguns entraves para exportar para a América Latina, temos proximidade física, o que facilita a logística de exportação, além de similaridade nos hábitos de consumo e higiene pessoal”, destaca Nobrega.
Em 2016, esse conjunto de países foi responsável por 82,6% do total das vendas internacionais do setor, somando mais de US$ 510 milhões, de acordo com dados do MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços). O número é 11,2% inferior ao do ano anterior, quando os top ten geraram US$ 575 milhões em exportações.
Quatro mercados foram exceções dentro desse ranking: Argentina, Paraguai, Colômbia e México. Juntos, estes países receberam 52,5% do total de exportações de HPPC do Brasil no ano passado, com crescimento acima de 10% em relação a 2015.
Os melhores resultados ficaram por conta dos nossos vizinhos e parceiros de Mercosul. Na Argentina, primeira na lista dos top ten, o aumento foi de 14,9%. O Paraguai, ocupando o quinto lugar, ultrapassou os 22%. Colômbia e México também se sobressaíram, com altas de 13,1% e 10,1% respectivamente. Os países ocupam hoje o terceiro e quarto lugares das vendas internacionais do setor.
A queda mais expressiva entre os principais compradores de produtos de beleza brasileiros foi para a Venezuela. O país passa por uma grave crise econômica, com retração de quase 19% em seu Produto Interno Bruto e uma inflação que chegou a 800% no ano passado, segundo dados preliminares do Banco Central do país. Se em 2015 o Brasil comercializou US$ 109 milhões em cosméticos com a Venezuela, no último ano as vendas ficaram em US$ 11 milhões, despencando quase 90%.
Os produtos brasileiros de HPPC que mais atraem o mercado externo são os de cuidados com o cabelo. A grande diversidade étnica do país levou a indústria desenvolver uma ampla gama de artigos, atendendo aos mais diferentes públicos. Os lançamentos também são parte importante das exportações – cerca de 30% do faturamento do setor são provenientes de novos produtos, de acordo com a ABIHPEC.
Desde 2000, a associação – em convênio com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) – desenvolve o projeto Beautycare Brazil, que apoia e fomenta as exportações brasileiras do setor. Promovendo feiras, rodadas de negócios e missões empresariais em diferentes partes do mundo, o programa aproxima potenciais compradores e companhias brasileiras que querem expandir seus negócios internacionalmente.