André Liberali, diretor geral da SGD Brasil

Em fevereiro deste ano, a fabricante francesa de frascos de vidro SGD apresentou ao mercado mundial uma nova versão de sua embalagem Infinite Glass, lançada em 2008. Com 90% de materiais recicláveis em sua composição, a Infinite Glass Neo atende aos padrões de transparência e brilho exigidos pelas grandes marcas internacionais de perfumes e cosméticos, além de contribuir consideravelmente para a diminuição do impacto ambiental envolvido em sua produção.

Embora o processo de coleta e fabricação de vidro pós-consumo no Brasil tenha uma série de particularidades, se comparado ao método europeu, a sucursal brasileira da SGD encarou o desafio de produzir uma versão “made in Brazil” da embalagem. Para isso, aliou-se a um parceiro de peso: a Natura, líder no setor de cosméticos do país e 23a no ranking de empresas mais sustentáveis do mundo.

Segundo André Liberali, diretor-geral da SGD Brasil, o trabalho com a Natura teve início em 2006. Após mais de oito anos de estudos e análises, foi possível chegar a uma solução que fosse ao encontro dos rigorosos padrões de qualidade da Natura, que vão desde a composição do vidro até a definição da aparência do frasco. “Para atender aos requisitos do processo de coleta do material, buscamos empresas que estejam alinhadas com os códigos de conduta da SGD e da Natura, não utilizam trabalho infantil e façam uso racional da água”, afirma Liberali.

A maior barreira para o desenvolvimento do projeto foi o fato da coleta seletiva de vidro no Brasil, ao contrário de muitos países da Europa, não prever a separação dos frascos por cores. “O vidro utilizado neste processo pode vir de outro frasco de perfume, garrafa de bebida ou pote de alimento, mas é necessário que ele seja transparente. Essa exigência acaba representando um importante custo na cadeia produtiva, já que a empresa que realiza a coleta também é responsável pela separação do vidro”, explica Liberali.

Pioneiro na indústria brasileira, o processo depende de uma logística consistente e incorre em custos adicionais para a indústria, mas os benefícios compensam. Segundo a Natura, a incorporação de 20% de vidro reciclado pós-consumo às embalagens dos perfumes colabora para a diminuição do gasto com energia e do uso de matérias-primas virgens. Na primeira etapa da iniciativa, foram utilizadas aproximadamente 472 toneladas de vidro reciclado, o que evitou o descarte de material equivalente a 1,3 milhão de garrafas de 600 ml. A redução da emissão de CO2 está prevista em 357 toneladas por ano.

À medida em que ações como esta se estabeleçam e venham a ser utilizadas por outras empresas de vidro ou de perfumaria, a tendência é que elas se tornem uma prática da sociedade, o que contribui para a queda dos preços”, afirma Sonia Grassi, diretora comercial da SGD Brasil. Embora ambos os produtos tenham a sustentabilidade como foco, a Infinite Glass Neo tornou-se uma linha da SGD disponível para todos os clientes, enquanto que no Brasil, o projeto é uma parceria exclusiva com a Natura. “Com o sucesso dessa iniciativa, é natural que outras empresas se interessem em fazer o mesmo. O papel do pioneiro é trazer para a sociedade novas possibilidades de tornar o dia-a-dia mais sustentável”, completa Grassi.

O uso de material reciclado pós-consumo nas embalagens é uma das metas da nova Visão de Sustentabilidade da Natura, divulgada em dezembro de 2014. Até 2020, um dos objetivos da empresa é utilizar 10% de material reciclado na massa total de suas embalagens. As fragrâncias Natura Humor, Kaiak, Essencial masculino e Ekos Frescor foram as escolhidas para serem comercializadas com o novo frasco, representando um avanço de 1,2% para 2,6% na meta da empresa. A expectativa é que, ao longo dos próximos anos, o material seja introduzido também em outras marcas.