Estima-se que a indústria cosmética mundial utilize mais de 10 mil substâncias químicas conhecidas como POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes) em suas formulações. Por não se degradarem facilmente, eles se acumulam na teia alimentar dos rios e mares, provocando uma série de perturbações à vida aquática e também ao ser humano, segundo o oceanógrafo Frederico Brandini, diretor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).
Ele estima que esse número seja ainda maior nos setores médico e farmacêutico.
Microesferas de plásticos
Um estudo realizado pela Universidade de Plymouth, no Reino Unido, apontou que o uso de microesferas de polietileno nas formulações de esfoliantes faciais e corporais, cremes dentais e outros cosméticos coloca a vida marinha em risco. A análise detectou também que o uso desses produtos resulta no descarte anual de 80 toneladas de resíduos de microplásticos nos oceanos, o que fez com que a indústria europeia de cosméticos colocasse como meta remover totalmente, até 2020, esses materiais das formulações.
EUA e Canadá também estudam aplicar leis de restrições a essas substâncias, o que reforça ainda mais a tendência atual entre os fabricantes de cosméticos de um movimento em direção a alternativas biodegradáveis.
De acordo com a Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC), o Brasil ainda não se posicionou quanto à proibição dos microplásticos, mas há uma expressiva demanda por parte do consumidor. A mais recente pesquisa Barômetro da Biodiversidade, realizada pela UEBT (Union for Ethical BioTrade), indicou que 92% dos brasileiros entrevistados esperam que os fabricantes adotem políticas de respeito à biodiversidade.
Ingredientes naturais e orgânicos
O cenário atual abre ainda mais espaço para os cosméticos naturais e orgânicos, que não apenas livram o consumidor, mas também o meio ambiente, de toxinas e substâncias químicas.
Fundada em 2010 pela empresária Soraia Zonta, a Bioart nasceu com o propósito de desenvolver maquiagens e produtos naturais de cuidados da pele com ingredientes orgânicos e que não provocam alergias. O ponto de partida foi o uso de argilas especiais.
Um dos argumentos da escolha pelo natural é a preocupação com o planeta, ela explica. “Todas as químicas de xampus e sabonetes sintéticos que vão para o ralo por meio das espumas contaminam águas e rios, e geram a poluição invisível das águas”.
Dentre as alternativas orgânicas presentes nos produtos da Bioart estão os óleos essenciais puros transformados em fragrâncias, as argilas coloridas usadas como pigmentos nas maquiagens e os ativos de oliva, que substituem os silicones convencionais.
Zonta afirma que a biodiversidade brasileira é a principal fonte de inovação da Bioart. Ela cita o uso de cristais da casca da castanha, argilas micronizadas, cristais de quartzo e resveratrol (extraído das uvas), além dos óleos essenciais de goiaba, alecrim do campo, laranja doce e pitanga.
Ela explica que as certificações naturais e orgânicas encarecem a produção dos cosméticos, mas asseguram a qualidade. “As matérias-primas certificadas são muito mais caras que as naturais não-certificadas, além do custo aplicado pelas certificadoras para manter o processo sempre vistoriado.” A necessidade de importar matérias-primas também eleva o custo do produto, o que indica que ainda há espaço para a expansão da indústria nacional de matérias-primas naturais e orgânicas.