Estima-se que, nos países tropicais, os turistas utilizem a cada ano entre 16 mil e 25 mil toneladas de protetores solares, o que potencialmente representa um volume de 4 mil a 6 mil toneladas de resíduos desses produtos despejados em regiões onde existem recifes de coral, segundo revela um estudo apresentado na revista científica Environmental Health Perspectives. Partindo do princípio de que é impossível – para não dizer totalmente desaconselhado – não se proteger dos efeitos nocivos dos raios ultravioleta, muitas marcas têm se empenhado para oferecer protetores solares que prometem um impacto menor sobre o ecossistema marinho. Para garantir esse resultado, é preciso eliminar determinados filtros UV, como oxibenzona e octinoxato.

Mistura de oligoelementos

Dando um passo a mais em matéria de ecologia, Eilat, cidade balneária do sul de Israel onde fica situada a reserva marinha de Coral Beach – que abriga uma centena de espécies de corais, além de centenas de espécies de peixes –, fez um apelo à comunidade científica para que fossem formulados produtos capazes de inverter, tanto quanto possível, o mecanismo que provoca o branqueamento dos corais.

Uma equipe formada por especialistas em biologia marinha e em dermatologia trabalharam de mãos dadas para desenvolver uma nova fórmula que contém um filtro solar mineral não nanométrico, à base de dióxido de titânio. A fórmula de base, que segue os padrões de referência da certificação Ecocert, foi submetida a uma extensa bateria de testes de segurança em meio aquático. O componente nutritivo, adicionado com vistas à preservação dos recifes, é uma mistura sob medida de oligoelementos aprovados pela FDA e utilizados em fazendas de corais para alimentar esses organismos e estimular o seu crescimento.

"O desenvolvimento de um creme solar que, além de não prejudicar os corais, contribui para nutrir os recifes é um passo importante para a proteção e a preservação dos oceanos", explica Giovanni Giallongo, Biologista Marinho da Universidade Ben-Gurion do Neguev, em Eilat.

Novas normas à vista?

Nada de revolucionário do ponto de vista técnico, mas um objetivo bem definido: clarificar as alegações baseadas na proteção de ecossistemas marinhos, com a criação de uma norma internacional denominada RPF (sigla de Reef Protection Factor) que ajude o consumidor a fazer uma escolha consciente na hora de comprar um protetor solar.

"Um número cada vez maior de produtos ostenta na etiqueta alegações como ’respeita os recifes de corais’ ou ‘inofensivo para os corais’. No entanto, diante da escassez de regulamentação nessa área, os consumidores muitas vezes são induzidos em erro. Esperamos que o novo selo RPF se torne uma norma industrial e seja adotado para além das fronteiras de Israel, se espalhando pelo mundo a fim de ajudar os consumidores a saber quais são os produtos verdadeiramente sustentáveis", explicam, num comunicado, os especialistas que lançaram a iniciativa.

"É uma forma de identificar os protetores solares que levam a sério a preservação dos corais", completa Giovanni Giallongo.

No ano passado, foi movida uma ação judicial coletiva nos Estados Unidos contra a marca australiana Bondi Sands, acusada de propaganda enganosa em razão das alegações sobre a proteção de recifes apresentadas nos rótulos de seus produtos. Esse não é um exemplo isolado: outros fabricantes do setor estão sendo processados por motivos semelhantes.