Premium/Brazil Beauty News – Por que decidiram instalar a nova fábrica brasileira da Symrise na região amazônica?
Eder Leopoldo Ramos – Como todo mundo sabe, a região amazônica possui uma das maiores reservas mundiais de biodiversidade e, portanto, constitui uma fonte riquíssima de matérias-primas para empresas da indústria de fragrâncias e cosméticos. A Symrise considera que, além de ter fundamental importância para o futuro do planeta, a biodiversidade é também um fator de sucesso determinante na indústria de cosméticos.
Construímos a nova unidade de produção no Ecoparque, complexo industrial e ecológico criado por iniciativa da Natura, gigante brasileira de cosméticos.
A Symrise foi a primeira a entrar nesse projeto. A Natura nos inspirou e nos convenceu com sua visão de que, com insumos obtidos a partir da rica biodiversidade amazônica, poderíamos oferecer aos clientes produtos realmente inovadores e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento econômico e social da região. Foi por essa razão que transferimos toda a produção botânica que realizamos no Brasil para a nova unidade. Com isso, também poderemos ampliar as pesquisas sobre novos ingredientes naturais e diversificar o portfólio de ingredientes para fragrâncias.
Premium/Brazil Beauty News – Como a União para o BioComércio Ético (UEBT) está apoiando a Symrise nesse projeto?
Rik Kutsch Lojenga – Sustentabilidade, ética e conformidade regulatória são importantes desafios para qualquer empresa que trabalhe com ingredientes naturais, principalmente quando esses ingredientes provêm de regiões sensíveis do ponto de vista ambiental, como é o caso da Amazônia. As empresas estão interessadas na biodiversidade do planeta, e isso exige uma abordagem responsável de questões como a preservação ambiental e os direitos e o sustento de comunidades locais. O papel da UEBT é ajudar as empresas a lidar com isso. No Brasil, trabalhamos também com a Beraca, a Natura e a Solabia.
Para a Symrise, a UEBT certificou ingredientes fornecidos por 14 comunidades da Amazônia brasileira, com base em padrões de BioComércio Ético reconhecidos internacionalmente. Esses critérios asseguram a conservação e o uso sustentável da biodiversidade na região de abastecimento, bem como o reconhecimento do papel desempenhado pelas comunidades provedoras, por meio de preços equitativos e projetos locais de desenvolvimento sustentável.
Eder Leopoldo Ramos – O abastecimento de ingredientes naturais é um desafio e tanto. E cada ingrediente é diferente. Dentro desse quadro, a UEBT é uma ótima parceira para a Symrise. Graças a essa parceria, podemos contar com a certificação da cadeia de suprimentos por uma organização independente, bem como ter a certeza de que estamos cumprindo as regras de Acesso e Repartição de Benefícios (ABS) e os princípios do Protocolo de Nagoia sobre Acesso a Recursos Genéticos, elaborado pela ONU.
A indústria está se orientando cada vez mais para a sustentabilidade, principalmente porque os ingredientes naturais estão se tornando fatores chave de crescimento. Por exemplo, alguns meses atrás, adquirimos a Pinova, empresa americana que fornece ingredientes para fragrâncias, cuidados bucais e produtos alimentícios obtidos a partir de fontes naturais e renováveis, como raízes, tocos de árvores, óleo de laranja e subprodutos da indústria do papel. A UEBT nos ajuda a lidar com todos os desafios relacionados ao uso de recursos naturais.
Premium/Brazil Beauty News – Quais os principais obstáculos no caminho rumo ao abastecimento ético da biodiversidade?
Rik Kutsch Lojenga – Não é fácil mudar práticas empresariais. Reformar políticas e processos estabelecidos é muito difícil. Uma coisa é certa, temos que superar certos desafios técnicos para garantir práticas éticas. Mas, acima de tudo, é preciso uma verdadeira mudança de paradigma – ou, para ser mais claro, uma mudança de mentalidade. Embora pareça uma tarefa homérica, essa mudança é, na realidade, uma bela oportunidade para se criar algo novo, algo melhor. As empresas vêm percebendo cada vez mais o valor e o potencial de negócios que o abastecimento ético da biodiversidade representa. O melhor de tudo é que, quando a mentalidade começar a mudar e as empresas passarem a integrar a noção de abastecimento ético da biodiversidade, verão como é lógico trabalhar de forma mais inovadora, inclusiva e positiva.