Com a aceleração das mudanças climáticas, empresas e nações do mundo todo estão sob crescente pressão para que reduzam o volume de carbono que emitem. A consequência lógica desse cenário é que o mercado de créditos de carbono deu um salto espetacular. O princípio é relativamente simples: para compensar as emissões de carbono geradas por suas atividades, as empresas compram créditos de carbono, e as verbas são utilizadas para investir em projetos de preservação de florestas ou de plantio de árvores. Nos mercados de carbono, um crédito equivale a uma tonelada de CO2 que, das duas uma: ou é totalmente eliminada do meio ambiente graças ao cultivo de árvores, ou é impedida de entrar na atmosfera ao prevenir o desmatamento. No entanto, esses programas há muito tempo vêm sendo acusados de falta de transparência, práticas contábeis duvidosas e conflitos de interesse intrínsecos.
Para avaliar com precisão a real eficácia dos programas financiados por créditos de carbono, uma equipe internacional de pesquisadores analisou os efeitos de vários projetos de Redução das Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação de florestas (REDD) implementados em seis países de diversos continentes [1]. Os resultados desse trabalho, publicados em 24 de agosto na revista Science, traçam um panorama claro: "A maioria dos projetos não conseguiu reduzir o desmatamento de maneira significativa".
Segundo o estudo, de um total de 89 milhões de créditos, apenas 5,4 milhões (ou seja, cerca de 6%) resultaram em redução efetiva das emissões de carbono como consequência da preservação das florestas.
Ainda que alguns projetos tenham produzido bons resultados, a redução das emissões foi nitidamente inferior ao nível previsto. "Precisamos rever com urgência as metodologias empregadas para estabelecer os níveis de referência do desmatamento aplicados aos modelos de compensação de carbono, de forma que a redução do desmatamento seja corretamente atribuída aos projetos, preservando assim o incentivo à proteção das florestas e a integridade do cômputo de carbono em nível global", afirma o estudo.
A arte de vender vento
"Os créditos de carbono conferem às empresas que mais poluem um simulacro de credibilidade em relação ao compromisso com a questão do clima", afirma Andreas Kontoleon, Professor do Departamento de Economia Fundiária da Universidade de Cambridge e principal autor do estudo. "Mas, na realidade, o que vemos é um certo exagero nas declarações de que vastas extensões de florestas estariam sendo salvas das motosserras a fim de equilibrar as emissões de carbono".
"Esses créditos de carbono consistem, no final das contas, em predizer se alguém vai derrubar uma árvore e, a partir daí, vender essa previsão", completa ele em um comunicado. "Se você exagerar ou se enganar – intencionalmente ou não – estará vendendo apenas vento".
O novo estudo é um dos primeiros com revisão por pares a abranger um leque representativo de projetos.
Para avaliar o desempenho de 18 programas de preservação florestal em diversos países, os pesquisadores identificaram, em cada região do planeta, locais que apresentavam condições semelhantes e eram desprovidos de programa de proteção ambiental. Desses 18 projetos, 16 alegavam ter evitado um nível maior de desmatamento do que o observado nas regiões usadas como base de comparação.
Vários fatores podem explicar por que os programas de preservação não cumprem os objetivos em matéria de sequestro de carbono. O primeiro é que os cálculos se apoiam em tendências históricas que podem ser inexatas ou ter sido deliberadamente infladas. Além disso, é preciso projetar a taxa de desmatamento ou de plantio por um período relativamente longo, o que não é fácil. Por fim, os projetos podem estar situados em regiões onde um processo de preservação substancial teria ocorrido de qualquer maneira. Portanto, é necessário revisar toda a metodologia em que se baseia o modelo de créditos de carbono.