"Esta conferência é muito mais do que a redação de um tratado internacional. É a humanidade que se mobiliza diante de uma ameaça existencial", afirmou na abertura o diplomata equatoriano Luis Vayas Valdivieso, que preside as conversações.

Divergências em vários assuntos-chave

As delegações em Busan têm uma semana para alcançar um acordo em tópicos delicados como o limite da produção de plástico, a possível proibição de substâncias químicas tóxicas ou o financiamento de medidas que serão incluídas no tratado.

A poluição por plásticos está tão disseminada que já foi detectada nas nuvens, nas fossas oceânicas mais profundas e em praticamente todas as partes do corpo humano, incluindo o cérebro e o leite materno. Embora todos reconheçam a existência do problema, as opiniões divergem radicalmente sobre a forma de combater a questão.

"Mas existem verdadeiras divergências em vários assuntos-chave", admitiu Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP). "Há muito em jogo, mas o compromisso também é muito grande nesta sala", disse. "Ninguém quer um acordo ruim", completou.

90% dos plásticos nunca são reciclados

Em 2019, o mundo produziu quase 460 milhões de toneladas de plástico, número que dobrou desde 2000, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). E é provável que a quantidade duplique até 2040, ou mesmo triplique até 2060.

Mais de 90% dos produtos com plástico nunca são reciclados e mais de 20 milhões de toneladas acabam na natureza todos os anos. O plástico também representa 3% das emissões mundiais de carbono, pois é produzido com combustíveis fósseis.

Dois lados travam um embate

De um lado, a Coalizão de Alta Ambição (HAC, na sigla em inglês), que reúne vários Estados africanos, europeus e asiáticos. Este grupo de países deseja um tratado que cubra todo o "ciclo de vida" dos plásticos, da produção até os resíduos.

O HAC defende metas globais que obriguem uma redução da produção e do resíduos. Também luta para impor mudanças na fabricação dos plásticos, para facilitar sua reutilização ou reciclagem.

No lado oposto, vários países, principalmente grandes produtores de petróleo como Rússia e Arábia Saudita, querem que o tratado aborde apenas a gestão dos resíduos.

As divisões paralisaram as quatro rodadas anteriores de negociações, que resultaram em um projeto de tratado de mais de 70 páginas totalmente inviável, segundo a opinião geral. Para desbloquear a situação, Valdivieso redigiu um projeto alternativo. O texto enfatiza as áreas de entendimento, como a necessidade de promover os plásticos reutilizáveis.

O diplomata equatoriano conquistou uma primeira vitória nesta segunda-feira ao conseguir que as negociações de Busan tenham como base o seu projeto simplificado. Rússia, Arábia Saudita e Irã inicialmente expressaram dúvidas sobre esta perspectiva, mas acabaram cedendo.

63 horas para um entendimento

Valdivieso lembrou às delegações que dispõem apenas de apenas 63 horas de trabalho nesta "semana crucial" para chegar a um acordo. Alguns analistas preveem que as negociações levarão mais tempo, especialmente após as difíceis conferências da ONU sobre clima e a biodiversidade nas últimas semanas.

"Não posso conceber que o acordo fracasse", declarou Andersen, que citou "a grande crise do plástico".

Andersen e Valdivieso insistem que um pacto deve ser concluído em Busan. A opinião preocupa algumas ONGs, que temem que as delegações acabem assinando um tratado fraco apenas para salvar as aparências.

A posição dos Estados Unidos e da China, que não declararam apoio aberto a nenhum dos lados, será crucial.

"Os dois países manifestaram a vontade de avançar e iniciar negociações profundas", afirmou Graham Forbes, diretor do Greenpeace. "Os [países] de que estamos falando representam, portanto, um percentual muito pequeno de todos os países produtores de petróleo", acrescentou.

O retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca gera dúvidas sobre o nível de ambição da delegação americana. Alguns negociadores questionam por que deveriam buscar o apoio dos Estados Unidos para um tratado que o país talvez nunca ratifique.