Em seguida, mediante parcerias com grandes marcas como Zara e L’Oréal, o etanol assim produzido é transformado em objetos de uso diário: garrafas, produtos de limpeza, roupas esportivas ou até vestidos. "Há 14 anos, eu jamais teria imaginado que um dia venderíamos roupas de gala fabricadas a partir de gases emitidos por siderúrgicas", brinca Michael Köpke, que trabalha na LanzaTech praticamente desde a sua criação.
Reciclagem de carbono
A LanzaTech e seus 200 colaboradores afirmam que, desde a fundação da empresa, já impediram a emissão de 200 mil toneladas de CO2 na atmosfera, gerando 190 milhões de litros de etanol a partir de gás carbônico.
É apenas uma "gota d’água", se considerarmos o volume necessário para combater as mudanças climáticas, admite Michael Köpke, microbiologista. Mas, depois de 15 anos trabalhando no desenvolvimento dessa técnica e na comprovação de sua viabilidade em larga escala, o objetivo atual da empresa é ampliar o número de fábricas que participam da iniciativa.
"Queremos atingir um nível em que só precisaremos utilizar o carbono que já tenha sido extraído do solo, a fim de mantê-lo em circulação", em vez de continuar extraindo ainda mais petróleo e gás, explica Michael Köpke.
Investimentos industriais
A LanzaTech compara sua tecnologia ao processo de fabricação de cerveja. A diferença é que, em vez de açúcar, a matéria-prima para a fermentação é constituída de gases de efeito estufa; e o produto final, em vez de cerveja, é etanol.
A bactéria usada no processo foi identificada décadas atrás em excrementos de coelho. A empresa trabalhou com a bactéria em condições industriais para otimizar seu desempenho, "a exemplo de um técnico treinando um atleta", compara Michael Köpke. Em seguida, essas bactérias, transformadas em pó liofilizado, são enviadas às fábricas, que se encarregam da construção de reatores com vários metros de altura, onde são inseridas as bactérias. No final, as empresas que são nossas clientes ganham em dobro: lucram com a venda de etanol e melhoram sua imagem no mercado ao contribuir para a redução das emissões de carbono.
Na China, nossos clientes são uma siderúrgica e duas fábricas de ligas de ferro. Seis outras unidades estão em fase de construção, uma delas na Bélgica, destinada a uma fábrica da ArcelorMittal, e outra na Índia, para a Indian Oil Company.
Como as bactérias são capazes de ingerir CO2, monóxido de carbono ou hidrogênio, o processo é muito flexível, bem mais do que "qualquer outra tecnologia de conversão de gases", explica Zara Summers, Vice-presidente de Ciência da LanzaTech. Como matéria-prima, é possível usar "lixo" gaseificado, "resíduos agrícolas ou gases emitidos pelas indústrias pesadas", explica ela.
Diversas aplicações
As muitas parcerias firmadas já possibilitaram a criação, a partir desses gases poluentes, de produtos domésticos comercializados pela grande rede de supermercados Migros, na Suíça, bem como o lançamento de duas coleções de vestidos da marca Zara. Vendidos por cerca de 90 dólares, eles são confeccionados com um tipo de poliéster cujas fibras contêm 20% de carbono capturado. Além disso, uma vez purificado para eliminar odores residuais, o etanol pode ser usado na fabricação de perfumes do Grupo Coty. A empresa estuda também a possibilidade de criar ingredientes para o setor de perfumaria em colaboração com a Givaudan.
Segundo Zara Summers, a humanidade "continuará precisando de carbono", mas "o objetivo é que, no futuro, ele não seja desperdiçado. (...) Em vez de liberá-lo na atmosfera, podemos integrá-lo a diversos produtos".
A LanzaTech criou também uma empresa independente, a Lanzajet, a fim de utilizar o etanol assim produzido como combustível para a aviação (sustainable aviation fuel, SAF).
Para a LanzaTech, o próximo desafio é comercializar bactérias que, em vez de produzir etanol, gerem outros tipos de produtos. Por isso, a empresa vem testando milhares de cepas de diversas bactérias em seus laboratórios. "Já demonstramos que é possível obter mais de cem produtos químicos diferentes", revela Michael Köpke. Atualmente, o etanol da LanzaTech precisa ser transformado em polietileno, mas essa etapa talvez possa ser eliminada em breve, possibilitando economias de energia ainda maiores.