Pela primeira vez na história, pesquisas na internet relacionadas a cabelos cacheados superaram as buscas por cabelos lisos no Brasil. Os dados são do Google BrandLab e apontam um crescimento de 232% no interesse por cabelos cacheados no último ano e 309% nas pesquisas por cabelos afro nos últimos dois anos. O estudo aponta ainda que 24% das mulheres de 18 a 24 anos reconhecem seu cabelo como cacheado. Porém, quanto mais avançada é a idade da mulher, mais difícil assumir os fios naturais.
O YouTube é considerado um dos principais responsáveis pela tendência das mulheres mais jovens de abraçar seus cachos, uma vez que é o público que mais acessa a internet para se informar e trocar experiências. Vloggers usam a plataforma para compartilhar truques e dicas e vêm se estabelecendo como referência quando o assunto é a manutenção dos cachos, além de conquistarem grande empatia do público. Até crianças estão se tornando influenciadoras digitais: em 2015, Carolina Monteiro, com apenas oito anos na época, gravou um vídeo em defesa dos cachos e contra o preconceito. O episódio viralizou e deu origem ao seu próprio canal no YouTube, onde ela fala sobre autoestima e orgulho dos cabelos crespos.
Manifestações de apoio aos cachos na internet e nas mídias sociais marcaram o início de um movimento que hoje enche de opções as prateleiras dos mercados e lojas de cosméticos, movimentando toda a cadeia produtiva. Segundo o Google BrandLab, as buscas por transição capilar (o processo de abandonar os alisantes químicos e assumir os cachos naturais) cresceram 55% no Brasil nos últimos dois anos. Termos como cronograma capilar, texturização, co-wash, low-poo e no-poo começaram a ser cada vez mais frequentes e estampar as embalagens dos últimos lançamentos na categoria.
Mas como as marcas podem se beneficiar do movimento? Dados do estudo Edelman 8095 mostram que os millenials demandam uma postura aberta dos fabricantes e que eles sejam envolvidos como participantes ativos nas decisões das empresas. A pesquisa aponta que 68% dos entrevistados espera transparência em relação aos atributos do produto e sua fabricação e 58% do público prefere comprar marcas que estabeleçam um diálogo por meio de seus interesses.
Apesar da tendência em prol dos cachos e campanhas de empoderamento encabeçadas pelas influenciadoras digitais, a pesquisa do Google afirma que o preconceito ainda não se dissipou. Uma em cada três mulheres diz já ter sofrido discriminação e quatro em cada dez já sentiram vergonha de ter cabelos cacheados. As próprias YouTubers fazem encontros para dar força ao movimento, trocar experiências e testar produtos. Um dos primeiros a ganhar repercussão foi o ‘Casa Tô de Cacho’, em 2015, patrocinado pela empresa Salon Line, que reuniu dez blogueiras para dar dicas de como cuidar dos cabelos cacheados.
O setor de matérias-primas também já sentiu esse aumento na demanda. De acordo com Juliana Frutuoso, gerente comercial da Beraca, o plano de negócios da empresa tem como parte fundamental os cabelos cacheados. Entre as matérias-primas, ela destaca o óleo de pequi, um ingrediente rico em provitamina A, ácido oleico e palmítico, que promete definir os cachos e controlar o frizz. O ativo é indicado para uso em xampu, condicionador, leave-in e sérum, além de produtos low-poo e co-wash. “De fato, houve um aumento na procura por ingredientes para formular produtos voltados aos cabelos cacheados, e isso se reflete no número de lançamentos com essa finalidade”, afirma Frutoso.