O mercado de cosméticos para grávidas é relativamente pouco explorado no Brasil, mas a crescente exigência dos consumidores por produtos naturais, fabricados sem ingredientes de origem animal ou parabenos, revela o potencial de expansão desse segmento.
“Notamos uma clara ascensão dos cosméticos naturais, orgânicos e veganos. Quando observamos os lançamentos de produtos de beleza para mulheres grávidas, há um crescimento no número de novos cosméticos com menos ingredientes químicos”, afirma Juliana Martins, analista de beleza e cuidados pessoais da Mintel.
A demanda é expressiva: entre janeiro de 2012 e julho de 2013, 69,2% das mulheres brasileiras engravidaram pelo menos uma vez, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Formulações seguras são uma premissa nos produtos para gestantes. “Por meio de evidências científicas, sabemos que alguns componentes realmente podem causar danos à saúde da mulher e do bebê, como é o caso de alguns filtros solares, tinturas capilares e derivados minerais. Como quase nenhum cosmético é testado em gestantes, elas são aconselhadas a não usar uma série de substâncias”, explica o farmacêutico e bioquímico Elton Bernardes, diretor técnico da Ecco’s Cosméticos Ecológicos.
Parabenos, formol, propilenoglicol, corantes e essências artificiais, benzofenomas, derivados de cânfora e dosagens de ureia acima de 10% são ingredientes potencialmente prejudiciais para a saúde do feto, de acordo com o órgão regulador americano FDA, detalha Bernardes. Enquanto os parabenos apresentam propriedades estrogênicas, ou seja, comportam-se como se fossem o hormônio feminino estrogênio, o formol pode contribuir para o surgimento de câncer. Já o propilenoglicol, os corantes e as essências artificiais podem desencadear alergias e irritações.
Encontrados nos filtros solares, os benzofenomas e derivados de cânfora podem causar desequilíbrios hormonais, além de serem potencialmente cancerígenos. Muito utilizado em produtos para a redução de medidas, o nicotinato de metila pode causar sensibilização em casos de uso frequente. “Por isso, é importante que as futuras mamães prefiram cosméticos não testados em animais, com os ativos e as respectivas concentrações explícitos nos rótulos”, ele reforça.
Neste ano, a partir de uma pesquisa de mercado, a Ecco’s lançou dois produtos exclusivos para mulheres grávidas, focados em hidratação imediata, tratamento de estrias e prevenção de flacidez. “Notamos uma grande deficiência de produtos para esse público especifico”, explica Bernardes.
Os demais cosméticos da marca identificam, em seus rótulos, se são aprovados para gestantes e a dosagem dos ativos. A restrição de ingredientes não limitou o desenvolvimento das formulações, afirma Bernardes. “Óleos minerais são substituídos por óleos de origem vegetal nas formulações. O propilenoglicol dá lugar à glicerina vegetal”, afirma ele. “Parabenos e conservantes liberadores de formol foram substituídos por componentes biodegradáveis, que não agridem o meio ambiente e não oferecem risco de sensibilização à pele. Também não utilizamos parafina ou corante nos produtos”.
De acordo com a analista Juliana Martins, o mercado global de cosméticos para gestantes está em constante expansão, com destaque para os novos produtos. Em 2016, os lançamentos representaram 68,7% do total de produtos nessa categoria contra 35,2% no ano anterior. No Brasil, ainda há muito espaço para expansão, afirma a analista. “O novo nicho do mercado de beleza referente a produtos com menos ingredientes químicos e matérias-primas naturais e orgânicas ainda está no seu início no Brasil, mas tem grandes chances de crescimento. As marcas terão que acompanhar a demanda das consumidoras e desenvolver produtos que vão ao encontro dessa expectativa.”