Inicialmente, foram as japonesas que exportaram o conceito de "rotina de beleza", mas foram as coreanas que desenvolveram e amplificaram esse conceito. Em seguida, vieram os BB creams. Agora, é a vez de compact cushions e máscaras de tecido embebido. A busca por uma pele impecável e radiosa, pela perfeição e pela juventude eterna é um dos numerosos pontos de convergência entre os dois países. Françoise Hernaez Fourrier ressalta que, embora existam diferenças entre as consumidoras japonesas e coreanas na forma como abordam a beleza, na média de idade e nas preferências de consumo, é inevitável que haja uma influência recíproca entre os dois países devido à proximidade geográfica. Além disso, ambos contam com o impulso de um outro vizinho: o imenso mercado chinês. "A indústria cosmética está entrando na China na esteira da K-pop e das séries coreanas que passam na televisão", continua ela.
Esse é também o ponto de vista de Florence Bernardin (apresentação completa disponível abaixo), que aponta, porém, para contrastes importantes ligados às características da população. "O Japão tornou-se essencialmente um mercado voltado para a terceira idade, com ênfase em produtos antissinais. Quando buscamos exemplos de produtos especificamente destinados a consumidores com mais de 50 anos, é no Japão que vamos procurar", explica ela. "A Coreia, por outro lado, conta com uma ampla base de consumidores na faixa dos 30 anos, além de ser estimulada por subvenções do governo e pela demanda chinesa, fatores que impulsionam consideravelmente a inovação".
Embora sejam sociedades relativamente conservadoras, a acirrada concorrência e a necessidade de seduzir consumidoras que estão sempre em busca de novidades e de eficácia máxima obrigam as marcas locais a saírem da zona de conforto. É por isso que, nesses países onde limpeza, higiene e banho são elementos culturais profundamente arraigados no dia a dia, foi possível desenvolver uma argumentação sobre a importância de "bons micróbios". Assim sendo, para preservar o microbioma que protege a pele, algumas consumidoras não hesitam em cobrir o rosto e o corpo de lamas das mais diversas origens.
No entanto, o ritual de lavagem da pele no final do dia, ou antes de usar o creme e a maquiagem, continua sendo um elemento importante da rotina de beleza, tanto na Coreia como no Japão. A marca coreana Etude House, por exemplo, criou um kit com 12 produtos de limpeza do rosto, um para cada mês: a ideia é adaptar o tipo de limpeza às necessidades da pele, que mudam em função do clima e das estações do ano. As marcas japonesas e coreanas também têm apostado cada vez mais em soluções de enxágue e estão lançando produtos post-cleansing destinados a manter a pele bem hidratada. Essa reinvenção da higiene facial pressupõe também novas fórmulas – por exemplo, com a substituição da água comum por águas de plantas ou flores.
Outra tendência observada por Florence Bernardin: os cushions – pequenas esponjas extremamente suaves, comercializadas em uma embalagem estanque e embebidas de uma fórmula líquida – estão se tornando mais compactos e se distanciando cada vez mais do universo da maquiagem para conquistar espaço entre os produtos para cuidados da pele. Um bom exemplo é o novo Baby Sun Cushion SPF32/PA++, da Primera. Com cerca de 15 g, ele cabe perfeitamente na bolsa das mamães que, quando estão fora de casa, desejam aplicar um protetor solar em seus bebês, com o máximo de simplicidade.
Katalin Berenyi, cofundadora da marca franco-coreana Erborian, que levou o conceito de BB cream para a Europa, chamou a atenção para as diferenças entre o ideal de beleza coreano e o ideal europeu. "Para criar a Erborian, buscamos inspiração nos rituais de beleza coreanos e em plantas tradicionais da farmacopeia local. Além disso, é claro, estudamos as tendências contemporâneas e os hábitos das jovens coreanas da sociedade atual", explica ela. "Paralelamente, tivemos um cuidado especial na adaptação de nossos produtos aos anseios das consumidoras francesas, em particular na adequação das fórmulas". Enquanto as coreanas desejam manter eternamente a aparência dos 20 anos, com a pele perfeita como a de um bebê, as europeias, principalmente as francesas, buscam uma beleza mais natural. "Portanto, teria sido um erro importar pura e simplesmente as fórmulas coreanas ".
Ainda é cedo para afirmar que, depois da supremacia francesa e da revolução criada pelas linhas límpidas do design made in Japan, o selo Hot in Seoul um dia se tornará o argumento comercial supremo no universo da beleza. Porém, não há como negar a crescente influência conquistada pela Coreia, conhecida como Terra da Manhã Calma: hoje o país já é capaz de rivalizar com as marcas francesas no mercado chinês. A Associação Coreana de Comércio Internacional (KITA) estima que a fatia de mercado dos cosméticos coreanos na China seja de 22,1%, ante 30,6% para os produtos franceses.
Clique nas imagens para baixar os documentos: Florence Bernardin, Inspiration & Information Françoise Hernaez Fourrier, IPSOS |