Ir a uma farmácia ou perfumaria e se deparar com produtos como maionese, iogurte grego, calda de chocolate ou creme de legumes pode ser alvo de surpresa para o consumidor, mas é cada dia mais comum encontrar no varejo brasileiro cosméticos que lembram alimentos.
A tendência não vem de hoje, afinal manteigas e mousses ou fórmulas à base de frutas fazem parte da rotina de beleza de milhares de consumidores há décadas. Mas o novo conceito da ‘cosmética gourmet’ extrapola a questão das texturas ou dos ingredientes empregados nas composições; ele também está presente na embalagem e na comunicação dos produtos.
“Cada vez mais vemos cosméticos com apelo gastronômico nas gôndolas brasileiras, com as mais variadas texturas. São produtos que despertam a curiosidade do consumidor e geram novas experiências durante a aplicação”, diz Christine Botto, responsável pelo marketing de personal care da BASF na América do Sul.
Atuando com polímeros que possibilitam diversos tipos de texturas, a empresa atende a atual demanda de clientes por cosméticos gourmet com formulações como Marshmallow e Geleia de Frutas, indicados para hidratação corporal, e Maria Mole, utilizado na definição de fios cacheados.
“A tendência veio das ‘misturinhas’ caseiras que os influenciadores digitais passaram a divulgar nas redes sociais. Como alternativa aos procedimentos de salões, e também por conta da situação financeira do país, começou a haver um enorme movimento na internet de uso de receitas caseiras para alisar, hidratar e cuidar dos cabelos com ingredientes de fácil acesso, o que inclui produtos alimetícios”, afirma Andressa Neves, assessora de imprensa e gerente de mídias digitais da Muriel Cosméticos.
Após um boom de vídeos que ensinavam mulheres a alisar o cabelo em casa utilizando amido de milho, a Muriel lançou a linha de produtos Alisena. A inspiração, tanto para a composição do produto como nome e embalagens, veio da mais famosa marca de amido de milho no país (Maizena).
“Com a maionese não foi diferente. Até mesmo famosas divulgaram em suas redes o uso de maionese para hidratar os cabelos, tornando o procedimento bastante popular entre mulheres com cabelos cacheados e crespos”, diz a representante da Muriel, que também tem em seu portfólio a linha Maionese Capilar, com máscaras para os fios desenvolvidas com proteína de ovos e óleos naturais.
Mas se as receitas caseiras fazem tanto sucesso, por que a indústria investe em produtos que simulam os alimentos?
“As ‘misturinhas’ caseiras dão trabalho e fazem bastante sujeira, então os produtos surgem como uma alternativa. Além disso, embora sejam inspirados nos ingredientes, todos nossos produtos são cuidadosamente desenvolvidos. Eles não são meras cópias das receitas, e sim linhas com adição de tecnologia e qualidade”, responde Andressa Neves.
Apesar da grande semelhança visual de alguns destes cosméticos e seus originais alimentícios, a assessora de imprensa da Muriel afirma que não há confusão. “Nas embalagens da Maionese há um aviso de ‘produto não comestível’. Além disso, os itens estão disponíveis nas gôndolas de cosméticos”.
Para a Anvisa, o assunto não é tão simples. Em declaração ao Brazil Beauty News, a agência de vigilância sanitária afirma que “o tema vem sendo tratado pela diretoria, que deverá regulamentar a questão em breve”.
Entre uma gelatina de banho e um ketchup ou shoyu para os cabelos, parece não haver limite na criatividade para cosméticos com apelo gastronômico. “A tendência deve se manter. O tempo todo surgem novas receitas caseiras que são amplamente difundidas nas redes sociais – um prato cheio para quem ama o assunto. E ainda há muitos ingredientes a serem explorados”, garante Andressa Neves.