Cosméticos de uso tópico que vão direto ao ponto e possam atender às expectativas dos consumidores. Este é o objetivo do “drone delivery”, sistema de encapsulamento e vetorização de ativos que começa a despontar na indústria da beleza no Brasil. Inspirada nos pequenos veículos aéreos não tripulados e controlados remotamente, a nova tecnologia possibilita que ingredientes de difícil absorção sejam entregues no local exato de ação, garantindo mais êxito nos resultados.
“Nossa própria pele pode dificultar o desempenho dos cosméticos,” afirma a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. De acordo com a médica, diferentes tipos de micróbios, bactérias, gorduras e proteínas mortas formam uma grande barreira física sobre a pele, dificultando e até mesmo impedindo a passagem de certos componentes das formulações cosméticas.
“No geral, ao aplicar um creme, seu ativo vai perdendo o poder de eficácia até chegar na célula onde deveria agir, principalmente se ela estiver localizada em uma camada mais profunda da pele”, diz Mika Yamaguchi, farmacêutica e diretora científica da Biotec Dermocosméticos, que integra o grupo AQIA Química Industrial.
A empresa brasileira de ativos acaba de apresentar ao mercado brasileiro seu primeiro cosmético drone, o Pro Lipo Neo. “Trata-se de uma tecnologia em lipossomas baseadas em fosfolipídeos que ligam-se à queratina da camada córnea, recobrindo a pele com um filme lipídico, que reduz a perda de água transepidermal e amplia sua função de barreira”, explica Yamaguchi. “Já os fosfolipídeos não ligados são introduzidos nos estratos mais internos da pele, podendo ser capturados pelas membranas celulares. Assim, os lipossomas conseguem aumentar a permeação e ainda favorecer a integridade da barreira da pele”.
Desenvolvido para combater a queda capilar, o Pro Lipo Neo permite que o ativo antiqueda Minoxidil entre pelo couro cabeludo e chegue ao seu alvo determinado, o que, de acordo com a Biotec, garante maior efetividade no tratamento e liberação controlada e específica do produto, sem causar irritação.
Segundo a diretora técnica da companhia, o sistema já adotado por algumas empresas na Europa possibilita usar doses menores dos ativos e assim, diminuir possíveis efeitos colaterais. Ela também informa que, além do Minoxidil, a nova solução pode ser aplicada em outros tipos de produtos de uso tópico para os cabelos e ainda em ativos para o cuidado corporal e facial, como vitamina C e ácido retinoico.
No que se refere à pele, a Dra. Pomerantzeff diz que esse tipo de tecnologia é mais indicado para cosméticos antissinais e clareadores. Para a dermatologista, produtos projetados para hidratar a pele devem atuar em nível superficial, não fazendo sentido esse tipo de entrega.
“O retinol, por exemplo, é um ingrediente muito potente, mas que pode provocar irritação quando utilizado em doses mais altas. Algumas peles sensíveis realmente não conseguem tolerá-lo e isso faz com que pessoas frequentemente desistam do tratamento com este ativo”, diz a médica. “Com o sistema de drone, em vez de se abrir na epiderme, o retinol encapsulado pode percorrer a pele e trabalhar de forma mais profunda as propriedades antienvelhecimento, sem a desvantagem de desconfortos como vermelhidão, coceira ou inchaço”, completa.