Se no setor brasileiro de alimentos o crescimento de produtos orgânicos está na casa dos 35% ao ano, de acordo com o Projeto Organics Brasil, no de cosméticos, os números ainda são mais modestos. O último levantamento realizado pelo Euromonitor apontou um aumento de 7,4% na produção de artigos de beleza orgânicos e naturais entre os anos de 2010 e 2012.
O Brasil, com sua rica biodiversidade, tem um potencial enorme neste mercado, mas ainda esbarra em dificuldades. Um delas é a falta de uma legislação específica.
A lei que regula a cadeia produtiva e a comercialização de orgânicos no país está em vigor desde 2011, mas nenhuma normativa sobre cosméticos foi publicada até o momento. Algumas empresas recorrem a certificadoras internacionais, como a francesa Ecocert, mas nem todas conseguem subsidiar seus custos.
A carência de fornecedores especializados em insumos orgânicos também é um entrave. Até 2012, pouco mais de cinco mil constavam no Cadastro Nacional de Produtores de Orgânicos – um número relativamente pequeno para garantir a produção em escala industrial. A falta de conhecimento e conscientização por parte do consumidor é a outra barreira que a indústria da beleza orgânica enfrenta no país. Mas este cenário vem mudando.
É cada vez maior o interesse dos brasileiros por cosméticos e produtos de higiene pessoal livres de ingredientes que possam ser nocivos à saúde e também ao meio ambiente. “Sentimos, ao longo do tempo, uma evolução muito grande na busca de informação por parte do consumidor, o que o leva a tomar decisões de compra cada vez mais conscientes, sempre com o objetivo de buscar beleza com saúde”, diz Clelia Angelon, fundadora da Surya Brasil, empresa nacional que lidera a produção de cosméticos naturais, orgânicos e veganos.
Criada em 1995, por uma necessidade pessoal da empreendedora, que procurava uma coloração menos agressiva para seus cabelos, a marca se desenvolveu comprometida com a proteção ambiental e animal, elaborando produtos orgânicos, livres de testes em animais e de componentes de origem animal, que hoje são vendidos em mais de 30 países.
A empresa tem em seu catálogo 150 itens, distribuídos em 10 linhas distintas, incluindo a coloração capilar em pó Henna, protetores labiais 100% veganos e a linha Sapien Women, com produtos para corpo, cabelos e banho. “Temos boas novidades a caminho. Um dos destaques é o removedor de esmaltes orgânico da linha Exotic Animals, com solventes amigos da natureza e glicerina vegetal. Seus óleos nutrem intensamente as unhas, evitando que fiquem secas e esbranquiçadas. O produto não contém acetona e possui certificação Ecocert, que garante a origem de seus ingredientes orgânicos”, afirma Angelon.
A Surya Brasil foi uma das primeiras marcas selecionadas pelas primas Mila Amaro e Priscila Melo quando criaram, em março deste ano, a e-cosmétique, loja virtual focada em cosméticos orgânicos, naturais e veganos. “Decidimos abrir o e-commerce porque acreditamos muito nesse tipo de produto como consumidoras”, afirma Amaro. No portfólio, estão cerca de 400 artigos sem componentes sintéticos ou artificiais e produzidos por empresas que se preocupam com a sustentabilidade. “Queremos cuidar do nosso corpo de forma saudável e contribuir para o bem estar do ser humano e do planeta”, completa Melo.
Outra empresa recém-lançada que também explora este nicho é a VeggieBox, serviço de assinatura que entrega mensalmente nas casas dos clientes uma caixinha com cosméticos naturais, 100% livres de insumos animais e de testes realizados em animais. Para ajudar os consumidores a descobrirem esses produtos concebidos de forma consciente, uma seleção cuidadosa dos artigos é realizada. “Contamos com a ajuda de blogueiras do segmento e pesquisamos todos os componentes para saber realmente se há certificação”, diz Samyra Cunha, uma das proprietárias do negócio.