Cabelos brancos são sinais visíveis do processo natural de envelhecimento biológico. “Estudos recentes mostram que até um quarto de pessoas em todo o mundo tem mais de 50% de cabelos grisalhos aos 50 anos, mas essa alteração também pode aparecer em pessoas mais jovens”, afirma Mika Yamaguchi, diretora científica da Biotec Dermosméticos.
Assumir os brancos ainda é um tabu em nossa sociedade, principalmente para as mulheres. Uma pesquisa realizada pela Nielsen em 2018 apontou que mais de 51% dos lares brasileiros fazem uso de colorações e que 46% das mulheres entre 45 e 54 anos tingiram os cabelos no período de um ano. O segmento movimentou R$ 4,62 bilhões no país e deve chegar a R$ 4,92 bilhões em 2023, segundo a Euromonitor.
Mesmo sendo soluções temporárias e que exigem reaplicações periódicas, as tinturas e colorações dominaram por muito tempo este mercado – até então sem outras alternativas. Mas começam a surgir no Brasil soluções que prometem a repigmentação dos fios brancos.
São produtos que agem diretamente nas células que dão cor aos cabelos, como o Greyverse, desenvolvido pela Biotec, fornecedora de matérias-primas para cosméticos. “Esse ativo é um peptídeo biomimético que estimula os melanócitos do bulbo capilar a produzirem melanina novamente. Ele também diminui o estresse oxidativo, causado pelo excesso de radicais livres – outra causa do aparecimento dos fios brancos”, explica Yamaguchi.
É o mesmo processo do RE30, lançado pela Phyto Paris, marca francesa de produtos botânicos para o cabelo. “Utilizando um peptídeo biomimético da α-MSH (hormônio alfa-estimulante dos melanócitos), a fórmula repigmenta os fios desde a raiz e os protege da despigmentação por oxidação”, diz Tatiana Shibuya, diretora geral do Alès Group Brasil, ao qual pertence a Phyto Paris.
Os resultados são variáveis, dependendo de cada pessoa. Em um teste de três meses com voluntários de até 35 anos – de cabelos escuros naturais, mas já com fios brancos –, o Greyverse diminuiu os grisalhos em 30%. Em estudos realizados pela Phyto Paris, o RE30 conseguiu 38% menos grisalhos em três meses de uso diário e 77% em sete meses.
Para serem eficazes, os produtos precisam que os melanócitos ainda estejam viáveis. “O RE30 pode ser utilizado por qualquer tipo de pessoa, porém, em alguns casos, quando não há mais nenhum rastro de atividade nos melanócitos, eles não podem ser reativados, então não haverá efeito”, fala Shibuya. “O produto é mais indicado para pessoas que começaram a ter fios brancos ou tenham até 30% de brancos”, completa.
Outra empresa que investiu na novidade foi a Givaudan, maior empresa do mundo no segmento de aromas e fragrâncias. “O Darkenyl™ é o resultado das mais recentes pesquisas com células-tronco”, afirma André Henriques, gerente regional do segmento Active Beauty da Givaudan na América Latina. “Ele foi desenhado para combater o processo de envelhecimento dos cabelos desde a origem, promovendo a proliferação de células-tronco capilares, que permitem a produção de novos melanócitos”.
Segundo Henriques, as propriedades antioxidantes do ativo reduzem os danos dos radicais livres nos folículos capilares em mais de 50%. “O envelhecimento do cabelo não é mais um fenômeno irreversível”, declara.
Os produtos para repigmentação surgem como alternativa, mas não devem ocupar o espaço das colorações. Para Yamaguchi, existe mercado para as duas categorias, até porque os resultados dos ativos não são iguais aos das tinturas. “É necessário paciência para repigmentar os fios brancos”, diz. Shibuya concorda: “não acho que sejam concorrentes, até porque podem ser usados concomitantemente”.
O gerente da Givaudan é otimista. “Sabendo que mais de 60% dos consumidores estão preocupados com o envelhecimento do cabelo, acredito que este segmento apresenta um enorme potencial para a indústria da beleza”, finaliza Henriques.