Brazil Beauty News - Quais são as características do mercado brasileiro de perfumes atualmente?
Alessandra Tucci - Segundo a Euromonitor, desde 2010 o Brasil é o maior mercado em termos de consumo de perfumes. A Kantar calcula que o mercado brasileiro representou 7 bilhões de dólares em 2013. Vendo esses números, temos uma ideia da forte relação cultural dos brasileiros com o universo dos perfumes: trata-se de um elemento essencial de bem-estar, autoafirmação e conquista.
No curto prazo, em razão de seu potencial de consumo e da concentração da indústria (apenas dois fabricantes detêm 85% do mercado), o Brasil desponta como uma alternativa promissora para a expansão de marcas globais. Os protagonistas locais exploram universos olfativos comprovadamente bem acolhidos pelo público brasileiro, como os florais frutais e os orientais gourmands enquanto também aceleram a entrada em novos territórios quase inexplorados, como é o caso da marca Make B. de O Boticário explorando as madeiras para o público feminino e da nova marca Luna da Natura, recém-lançada em 2014, e apresentando maior audácia olfativa através da sua fragrância Chipre e fresca.
Paralelamente, a atração das marcas globais pelo mercado brasileiro amadureceu, em particular com a possibilidade de produzir no país e, consequentemente, reduzir os custos com taxas alfandegárias. Sem dúvida alguma, o segmento premium vai ganhar terreno assim que a distribuição se estruturar.
Brazil Beauty News - Quais as tendências mais marcantes de 2014?
Alessandra Tucci - A expansão do segmento premium vem sendo estimulada pelas crescentes exigências dos consumidores, que estão bem informados e dispostos a pagar mais por um produto de qualidade. Essa tendência é visível, por exemplo, na participação de mercado conquistada por produtos como Lily Essence, Zaad e o Eau de parfum Make B. de O Boticário e Una, da Natura, bem como na maior sofisticação das redes de distribuição, com a chegada e expansão das cadeias de lojas Sephora e The Beauty Box. Toda essa movimentação foi reforçada por estratégias olfativas adaptadas e diferenciadas. A Make B., como dito anteriormente, privilegia fragrâncias amadeiradas e florais, sem presença marcante de notas frutais. O Una, da Natura, tem perfil criativo, elegante e envolvente, quase como uma segunda pele. A marca Amó, também da Natura, protagoniza madeira e especiarias, enquanto o Lily Essence e Lady Lily criaram uma personalidade floral e elegante.
Tradicionalmente frescos e amadeirados, os perfumes masculinos vêm se destacando pelo caráter mais quente, amadeirado e sofisticado, o aumento de perfumes orientais para homens e mulheres é uma das grandes mudanças do mercado, em muito influenciadas pelas marcas internacionais.
Brazil Beauty News - O que esperar de 2015, na sua opinião?
Alessandra Tucci - Penso que a expansão do segmento premium vai continuar, gerando a necessidade urgente de aprimorar a expertise local em perfumaria em ambas as pontas: o consumidor, que vai continuar a ampliar sua cultura geral sobre perfumaria; e o profissional, que vai se capacitar para poder explorar o potencial que o segmento oferece.
Na Paralela, acreditamos e investimos na promoção da inovação através do conhecimento. Em dois anos promovemos mais de 30 workshops e cursos sobre diversos temas da perfumaria, reunimos mais de 340 alunos em São Paulo. Nos últimos 6 meses, efetuamos uma série de treinamentos in company para empresas do setor. Em 5 anos, teremos um mercado mais maduro e conhecedor de perfumes.
Além dos pontos acima, a inauguração no Brasil, prevista para 2014, das duas primeiras lojas Aesop (marca australiana adquirida pela Natura) é mais uma prova da descentralização e sofisticação do mercado.
As marcas internacionais, por sua vez, caminharão para uma estratégia de produção local, como comprova a consolidação da parceria de distribuição firmada entre a Coty e Avon. A identidade olfativa do mercado brasileiro ficará ainda mais próxima da identidade dos mercados internacionais, com um leque mais amplo de temas em comum, tanto nos perfumes femininos como masculinos – por exemplo, frutais florais ou orientais gourmands , além de um número maior de perfumes masculinos com notas orientais amadeiradas e fougère amadeirado. Diante da feroz concorrência, sobra pouco espaço para a inovação, mesmo se o consumidor vem manifestando o desejo de descobrir novas fragrâncias. Por outro lado, o mercado ficará mais diversificado e rico em oferta em vários caminhos olfativos.
Brazil Beauty News - Falando nisso, a senhora acredita que possam surgir no Brasil perfumes de nicho?
Alessandra Tucci - Com a propagação de informações nas redes sociais e em blogs, é fascinante observar o quanto a paixão por perfumes contribui para aprimorar o conhecimento que as pessoas têm sobre o assunto.
Por outro lado, essa é uma categoria que exige maior conhecimento sobre perfumaria para que o consumidor possa valorizá-la. O mercado de nicho não trabalha ampla distribuição, propaganda, ele valoriza a qualidade do produto, do serviço e a exclusividade que ele representa. Tal produto enfatiza a venda de valor em detrimento do volume. Sendo o consumidor brasileiro admirador de grandes marcas, acreditamos que a perfumaria de nicho ainda vai precisar de alguns anos para impactar o mercado local, mas essa é sem dúvida uma oportunidade para o futuro.