Para ter controle sobre toda a cadeia de matérias-primas e garantir a produção sustentável de suas fragrâncias, a companhia química japonesa Takasago adotou o cultivo próprio de ingredientes utilizados em suas criações. Por meio de parcerias exclusivas com comunidades locais ao redor de todo o mundo, a empresa assegura ingredientes plantados, cultivados e extraídos de forma sustentável e renovável, não agredindo o meio ambiente.
É o que explica Carolina Celli, gerente de marketing de fragrâncias finas da centenária multinacional, que está presente em 27 países. “Nosso programa integrado Takusi permite o acompanhamento de perto em todo o processo de produção. Conseguimos garantir controle ambiental e a qualidade e segurança de nossas matérias-primas, além de apoiar a economia destas comunidades locais”.
Ela cita como exemplo o cultivo de baunilha de Madagascar. Maior produtor global da especiaria extraída das vagens da orquídea Vanilla planifolia, o país é também um dos mais pobres do mundo. Além da exploração do trabalhador rural – que tem jornadas duras e muitas vezes nenhuma noção do valor do que cultiva –, a alta demanda pela iguaria tem gerado produtos de baixa qualidade, contrabando e problemas de segurança nas regiões de cultivo. Além disso, para produzirem mais, áreas florestais estão sendo desmatadas na ilha, o que acaba afetando as condições climáticas que são justamente o que fazem da baunilha de Madagascar tão única.
Celli afirma que a Takasago não pretende se tornar autossuficiente em termos de matéria-prima. “Temos ingredientes usados em perfumaria são específicos ou nativos de algumas regiões, assim há determinados produtores no mundo que são únicos para certas matérias-primas e acabamos comprando deles também”.
Também dentro do conceito “química verde”, a companhia acaba de aderir ao “upcycling”. Comum em setores como a moda e alimentação, esse procedimento vem ganhando espaço no mercado de perfumaria e cuidados pessoais recentemente. “Trata-se de uma alternativa de aproveitamento de matérias-primas que seriam descartadas por outras indústrias e que conseguimos utilizar na criação de fragrâncias”, explica a gerente de marketing. “No Brasil, temos a maior produção de laranja. A indústria do suco, após a extração do sumo, descartaria a casca. Mas dela é extraído o óleo essencial de laranja”.
Outro exemplo de matéria-prima reaproveitada pela Takasago é a hinoki, uma madeira japonesa oriunda de uma árvore considerada sagrada. Tradicionalmente usada na indústria de carpintaria para a construção de templos e santuários no país, ela gera resíduos que são transformados em óleos essenciais.
“Conseguimos explorar novos territórios olfativos e, ao mesmo tempo, cuidar do meio ambiente”, diz Celli. Para ela, esse processo também agrega valor à criação dos perfumistas da casa. “Nossa paleta está em constante crescimento e isso traz desafios de forma positiva”.
Leonardo Lucheze, perfumista da Takasago, apoia o uso de ingredientes reaproveitados de outras indústrias. “Desta forma, o perfumista acaba sempre tendo novas opções, olfativamente falando, já que a fragrância é diferente quando comparamos uma matéria-prima regular a uma ‘upcycled’. Temos que pensar neste aspecto positivo na hora da criação e também no projeto como um todo, incluindo sustentabilidade, inovação e tendência”, afirma.