A venda de cosméticos é uma das principais apostas do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para 2016. Ao lado do serviço de pedreiros, eletricistas e encanadores, o conserto de carros e eletrônicos, e a confecção e comércio de roupas, acessórios e alimentos para consumo domiciliar, os negócios ligados à beleza são os que têm mais chance de triunfar neste ano de pessimismo econômico no Brasil.
Trata-se de uma lógica mercadológica bastante simples: se durante a crise o consumidor não consegue comprar um celular novo, o jeito é consertar o usado. Se não é hora de investir em um carro zero ou fazer uma viagem internacional, ainda é possível adquirir bens de menor valor que também tragam satisfação e bem-estar, como os cosméticos.
Mas não é no varejo tradicional que se encontram as maiores oportunidades de sucesso com os produtos de beleza, e sim nas franquias e vendas diretas. Os dois canais de distribuição tiveram resultados positivos em 2015 e a boa performance deve se repetir neste ano.
“O setor de franchising no subsegmento de cosméticos e perfumaria vem se mostrando resiliente frente ao atual cenário brasileiro. Mesmo com as quedas expressivas no varejo e no PIB, ele registou crescimento de 7,7% em 2015. Em números de unidades, a alta foi de 5,7%”, informa Claudio Tieghi, diretor de inteligência de mercado da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Para ele, o desempenho positivo das franquias de HPPC se explica, primeiramente, por trabalharem com marcas tradicionais, como O Boticário – que segue na liderança do franchising no país –, cujo ticket médio se encaixa no bolso do brasileiro. Depois, pela natureza colaborativa do modelo de negócio. “Nossa essência é baseada na transmissão de conhecimentos do franqueador para o franqueado e no compartilhamento de recursos. O negócio não parte do zero: o franqueado tem acesso a uma marca estabelecida, produtos e serviços testados, processos desenhados e uma cadeia de fornecedores e abastecimento já em funcionamento”, afirma Tieghi. Números da ABF mostram que a mortalidade de franquias é dez vezes menor que a de negócios independentes – a taxa é de 4% contra 40%.
Para as vendas diretas, 2015 foi de estabilidade. Com cerca de 90% do volume de negócios concentrados em produtos de beleza – com gigantes como Natura e Avon – e mais de 4,5 milhões de profissionais autônomos atuantes, o canal registrou uma receita de R$ 41,3 bilhões no ano passado, o que coloca o Brasil na quinta posição no ranking mundial do porta a porta, atrás dos EUA, China, Japão e Coreia do Sul.
“Empreender no canal de vendas diretas pode ser um bom negócio tanto em momentos de crise, quanto em um cenário favorável”, diz Roberta Kuruzu, diretora executiva da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD). Além do baixo risco de investimento, ela ressalta a natureza eclética do setor. “Qualquer pessoa pode iniciar um negócio em venda direta, já que não há restrição de idade, sexo ou escolaridade. As empresas geralmente cobram taxas iniciais baixas, que giram em torno de R$ 100, e oferecem capacitação e treinamento em produtos e gestão de negócios”.
Para especialistas do mercado varejista, quando mais conturbado é o panorama econômico, maior é a tendência de crescimento em vendas diretas. Um bom exemplo vem da norte-americana Mary Kay, presente no Brasil desde 1998. Seja pelo aumento do desemprego ou a necessidade de uma renda complementar, nos últimos três anos, a companhia viu sua força de vendas triplicar no país, chegando a um time de 440 mil revendedoras. Juntas, elas levaram a empresa a faturar 40% a mais que em 2014. Nada mal para um ano de recessão.