Um tabu prestes a cair em desuso: aquele que fazia das bactérias nossas inimigas, essas invasores que ocupavam o nosso organismo, incluindo a pele, para seu enfraquecimento e danos múltiplos. Assim, foi graças a uma popularização progressiva do universo das bactérias, que começou no mundo da saúde, dos suplementos alimentares e dos alimentos funcionais, que o segmento cosmético, se encontrando em uma encruzilhada, decidiu também partir para esta tendência.
Tudo é uma questão de equilíbrio microbiano, individualizado, que a microbiota é útil para nossa proteção e nosso bem-estar.
A vida é um equilíbrio, a microbiota também!
É assim que a noção de ecologia cutânea faz sentido ao se aplicar ao mundo do infinitamente pequeno, o dos microrganismos que formam o estrato córneo, ou microbiota cutânea.
Em caso de desequilíbrio "pele-microbiota", inúmeros danos cutâneos, até perturbações mais graves, podem aparecer e os fatores de agressão não faltam na sociedade higienista na qual nós vivemos. É hoje reconhecido que "demasiada limpeza" mata a higiene e que por isso não devemos nos lavar com muita frequência ou usar produtos muito agressivos... porque muito perto de nós existem microrganismos indesejáveis, prontos para vir tomar o lugar da microbiota e desestabilizá-la.
A Microbiota, um sistema complexo que ainda não terminou de revelar seus segredos…
A Microbiota cutânea não pode ser definida especificamente e generalizada para todos os indivíduos. Nós temos nossa própria identidade microbiótica que se formou ao longo do tempo. A microbiota forma uma verdadeira comunidade ecológica interativa, um ecossistema equilibrado, que é essencial manter ou restaurar, mas que é muito complexo. De fato, desde o lançamento nos EUA em 2007 do projeto "Human Microbiome Projeto" (HMP) do National Institute of Health, os pesquisadores observaram grandes variações na topografia da microbiota humana [1] bem como grandes diferenças entre os indivíduos [2].
Quando percebemos que cada cm2 de pele contém 1 milhão de microrganismos com centenas de espécies específicas, conseguimos entender melhor a importância desse ecossistema...
As bactérias podem ser comensais quando elas vivem em contato com o revestimento mucocutâneo de um hospedeiro sem causar danos. Instala-se, então, um equilíbrio entre o indivíduo e as diversas floras comensais da pele e das membranas mucosas, dependendo da idade, dieta, condições de vida, mas esse equilíbrio é constantemente ameaçado pelas agressões físicas ou químicas sofridas (poluição, temperatura, os raios UV, o uso intensivo de produtos tensioativos, antibióticos, estresse, etc...). As bactérias comensais ou residentes são consideradas benéficas no discurso comum apresentado aos consumidores. Perante estas estão as bactérias transitórias, indesejáveis e/ou patogênicas. Estas noções são muito mais sensíveis na medida em que a mesma bactéria pode ser associada ou não com efeitos colaterais... Isso vai depender também do indivíduo e da estabilidade de sua microbiota...
As bactérias oportunistas, uma outra maneira de caracterizá-las, podem se tornar prejudiciais ou induzir distúrbios quando as defesas do hospedeiro estão enfraquecidas. Elas aproveitam a oportunidade de se implantar no território da pele. Por outro lado, a pele também pode conter bactérias patogênicas, tais como Staphylococcus aureus, fazendo parte da sua flora comensal sem o desenvolvimento de danos; deve notar-se que, segundo o Instituto Pasteur, 30 a 50% da população é portadora saudável e que a ruptura da barreira da pele (por exemplo, numa ferida) pode induzir efeitos patogênicos... Outro exemplo: Qual é o status de Propionibacterium acnes e o de Corynebacterium xerosis, bactérias que estão respectivamente envolvidas nos problemas de peles oleosas ou no desenvolvimento de odores desagradáveis? Esses microrganismos não são considerados patogênicos estritamente falando, mas a sua ação prejudicial, ou os inconvenientes que causam, estão relacionados com a composição da microbiota em torno deles, mas são igualmente em função da pele e de seus desequilíbrios intrínsecos.
Finalmente, o Staphylococcus epidermidis, que muitas vezes ouvimos falar na cosmética: dependendo do caso, ele pode induzir infecções significativas da pele e é encontrado nas peles propensas à acne [3], enquanto que um estudo realizado por uma equipe japonesa demonstrou em 2015 os seus benefícios na manutenção da hidratação [4]...
Estamos apenas no início das pesquisas e muitas perguntas ainda precisam ser esclarecidas antes de desvendar todos os mistérios da microbiota e melhor compreender como isso afeta o ecossistema cutâneo.
Os mecanismos de defesa da pele
Além da microbiota que cria uma barreira ao desenvolvimento de bactérias oportunistas, a pele tem outros mecanismos de defesa que são, em particular, as suas barreiras biológicas e físico-químicas (Fig. 1).
Quando esta barreira é rompida ou alterada, levando à entrada de agentes microbianos oportunistas, a pele implementa vários mecanismos de defesa biológica. O seu sistema imunitário inato é ativado, induzindo respostas, tais como a fagocitose por células neutrófilas e macrófagos, a indução, em particular pelos queratinócitos, da síntese de peptídeos antimicrobianos( [5], [6]) ou AMP (as β-defensinas, especificamente Hbd2 & Hbd 3, as catelicidinas LL37) em complementos de peptídeos AMP constitutivos (Rnase 7, psoriasina, lactoferrina, dermicina).
Pontos importantes: as bactérias patogênicas não parecem ser capazes de desenvolver resistência a estes AMP. Estes peptídeos agem, por exemplo, rompendo a membrana dos microrganismos alvo ou penetrando a célula microbiana para interferir com as suas funções intracelulares.
O Grupo Solabia e a sua abordagem microbiótica
Convencido das interações existentes entre o organismo e os microrganismos, a Solabia se interessou pela flora cutânea e pela manutenção de seu equilíbrio na superfície da pele, há cerca de 20 anos. Especializada em biocatálise enzimática, a Solabia desenvolveu assim um método original, que consistiu, em primeiro lugar, na produção de uma enzima específica por fermentação (Glucosil-transferase) e depois fez agir esta última em substratos de origem vegetal, para obter prebióticos.
– Manter a integridade da microbiota ou promover o seu desenvolvimento. Os prebióticos são oligossacarídeos com uma bioseletividade à microbiota. Neste caso, são gluco-oligossacarídeos (Fig. 2, Bioecolia®) que atuam como substratos seletivos para promover o desenvolvimento da microbiota em detrimento do desenvolvimento de microrganismos oportunistas ou indesejáveis, associados com distúrbios cutâneos (Propionibacterium acnes, Staphylooccus aureus, Corynebacterium xerosis, Malassezia furfur, Gardnarella vaginalis, Candida albicans…). A seletividade de Bioecolia® está relacionada com a presença de ligações específicas do tipo α-(1-6) e α-(1-2) entre as unidades de glucose que o constituem, metabolizáveis mais rapidamente e eficientemente pela flora residente comensal que, por inibição competitiva, se fortalece ou se desenvolve melhor no território da pele do que a flora oportunista. Ativo com a assinatura do Grupo Solabia, Bioecolia® é a garantia de uma ecologia sustentável já tendo sido formulado para diferentes tipos de cuidados da pele, cabelo e higiene corporal e íntima.
– Estimular a síntese dos mecanismos de defesa antimicrobiana. Com os consumidores interessados nos probióticos, mais conhecidos do que os prebióticos, a Solabia em suas pesquisas contínuas, desenvolveu um ativo simbiótico, associando dois prebióticos e duas bactérias probióticas, mas de uma forma inativada, (Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei) obtendo então o ativo Ecoskin®. Além da capacidade do complexo para interagir na bioseletividade da microbiota, os gluco-oligossacarídeos e os fruto-oligossacarídeos (obtidos após prensagem dos tubérculos do Yacon, Polymnia sonchifolia), demonstraram propriedades estimulantes da síntese de peptídeos antimicrobianos (Fig. 3) de tipo β-defensina 2 e β-defensina 3 (+71% vs. placebo). A presença dos lactobacilos também reforça a proteção imunitária da pele. Avaliado contra Placebo, num painel de voluntários com uma pele muito seca, Ecoskin® desperta o brilho da pele, diminuindo a profundidade média dos microssulcos, reestruturando a pele através da sua rede micro-depressionária, não deixando de nutrir e de diminuir as suas sensações de desconforto. Mais luminosa, a pele pode assim ostentar uma aparência saudável ecologicamente controlada.
– Agir contra a adesão microbiana. A colonização do território cutâneo mas também das membranas mucosas utiliza fatores de aderência associados com estruturas especializadas presentes na superfície das bactérias que possuem a capacidade de se ligar a receptores específicos das células da pele. Combater a adesão das bactérias oportunistas constitui um meio de defesa adicional para limitar a proliferação das bactérias indesejáveis ou até patogênicas e manter a microbiota cutânea. Os fatores de aderência são diferentes dependendo das bactérias. Entre eles, as lectinas bacterianas, glicoproteínas na superfície de bactérias e capazes de se ligar a receptores das membranas das células epidérmicas. Além disso, o processo de adesão também pode vir das próprias lectinas das células epidérmicas, apresentando uma afinidade específica para os açúcares, estes últimos encontrando-se então na superfície das bactérias e na origem da formação de biopelículas [7]. É a partir desta observação que o departamento de pesquisa do Grupo Solabia, especializada em Glicobiologia, desenvolveu um polissacarídeo, Teflose®, apresentando uma concentração substancial de ramnose (Fig. 4), açúcar possuindo uma afinidade específica para os receptores das células epidérmicas. Esta molécula desempenha então o papel de um revestimento à superfície da pele para limitar, como um escudo antimicrobiano, a adesão de bactérias oportunistas e reduzir as reações de desconforto resultantes. Testado em epiderme reconstruída após uma aplicação tópica, Teflose® confirmou a sua afinidade com a pele diminuindo a adesão de Propionibacterium acnes, de Staphylococcus aureus e de Staphylococcus epidermidis. Outros estudos que estão sendo aprofundados têm também se concentrado na sua capacidade de reduzir a biopelícula formada por certas bactérias. Mas a composição em ramnose de Teflose® não se limita à adesão antimicrobiana; de fato, com 60% deste açúcar raro, o polissacarídeo também tem propriedades antinflamatórias regulando a liberação de mediadores específicos, incluindo agressões bacterianas (por exemplo: Interleucina-8). Multiuso graças às suas aplicações (cuidados relaxantes, cuidados desodorantes, cuidados para peles sensíveis/dermatite atópica, cuidados para peles oleosas, higiene corporal...), Teflose® pode, finalmente, ser associado com prebióticos, sendo que estes últimos promovem a manutenção da microbiota enquanto que este escudo anti-adesão evitará a implantação cutânea de bactérias oportunistas, especialmente se o ecossistema da pele se apresentar fragilizado.
Perspectivas
Desde o início do projeto HMP em 2007, muitas descobertas foram feitas sobre o papel da microbiota humana. Se ontem os microrganismos eram percebidos negativamente por serem considerados a causa de muitas doenças, hoje a mentalidade mudou e a evolução dos conhecimentos nos leva a considerar a microbiota como uma das nossas sentinelas às ordens da defesa cutânea. Muitos caminhos promissores ainda existem para ser explorados e vão, sem dúvida, mudar a nossa abordagem da pele e dos ingredientes que usamos para lhe fornecer proteção e bem-estar.