A Debut Biotechnology, startup sediada em San Diego, na Califórnia, anunciou uma grande vitória no desenvolvimento de carmim não derivado de recursos animais. Graças a uma nova classe de enzimas, a empresa conseguiu bioproduzir uma versão vegana desse pigmento vermelho intenso que, desde sempre, utiliza cochonilhas como matéria-prima.
"O carmim é uma das moléculas mais refratárias à inovação. Tivemos que investir muito e trabalhar sem descanso, mas valeu a pena: estamos orgulhosos de ter descoberto o elo essencial que faltava para produzir carmim renovável e possibilitar a obtenção dessa molécula tão apreciada, utilizando açúcar como matéria-prima", afirma Joshua Britton, PhD, fundador e CEO da Debut.
Para tornar possível a bioprodução a partir de um recurso renovável e de baixo custo, a Debut associou seus sistemas patenteados de produção microbiana a uma técnica de última geração para biofabricação acelular, capaz de contornar certas inviabilidades industriais. Dessa forma, a bioprodução de carmim foi multiplicada por cem, em comparação com as melhores experiências anteriores. Para chegar a esse resultado, a Debut realizou pesquisas e descobriu duas enzimas cujo desempenho foi, em seguida, potencializado.
Abastecimento sustentável e seguro
Segundo a Debut, os substitutos sintéticos existentes estão longe de oferecer a mesma eficácia do carmim de origem animal: eles não apresentam a mesma vivacidade nem a mesma estabilidade, além de serem mais difíceis de usar em formulações. Vale lembrar que os equivalentes sintéticos levantam também questões de ordem sanitária. Em janeiro de 2025, a FDA proibiu o uso do corante Red N° 3 sintético, em razão de seu possível efeito cancerígeno.
Como reação a esse debate, a Debut afirma que o carmim bioproduzido por ela oferece "vantagens incomparáveis em matéria de saúde, segurança e respeito aos animais e ao meio ambiente. Tudo isso com uma cadeia de abastecimento coerente, que não depende da dinâmica migratória de coleópteros". Cabe ressaltar que o fator de pureza do ácido carmínico da Debut é superior a 95%, em comparação com 30%, ou até menos, registrado, em média, nas versões industriais. Aliás, o fator de pureza do ácido carmínico derivado da cochonilha é extremamente baixo, situando-se, em geral, em torno de 10%.
Além disso, o carmim bioproduzido não contém uma proteína específica presente no carmim derivado de coleópteros e conhecida por provocar irritações. Por essa razão, ele é particularmente adaptado ao uso em cosméticos e alimentos. Para completar, o carmim de origem biotecnológica pode ter ação antioxidante e anti-inflamatória.
Produção piloto para o setor de beleza
Recentemente, a Debut realizou uma produção piloto destinada à formulação de ácido carmínico para aplicação em cosméticos. Numa experiência pioneira, a empresa pretende inicialmente fornecer o produto para esse setor, prevendo em breve oferecê-lo à indústria de alimentos e bebidas.

Segundo a Market.us, o mercado mundial de carmim deverá movimentar algo como 91,8 bilhões de dólares até 2033, em comparação com cerca de 50,8 bilhões de dólares em 2023.
Em julho do ano passado, a startup americana revelou ter assinado um acordo com a L’Oréal para desenvolver mais de dez ingredientes bioidênticos destinados a substituir ingredientes tradicionais atualmente utilizados em cuidados da pele e do cabelo, produtos de maquiagem e perfumes comercializados mundialmente pelo gigante do setor de beleza. Em janeiro de 2025, a Debut anunciou também uma parceria com a empresa de terceirização de cosméticos KDC/one, com o objetivo de agilizar o desenvolvimento de ingredientes a partir de técnicas que utilizam algoritmos preditivos.