Os esmaltes semipermanentes são muito apreciados, principalmente por sua resistência: eles se mantêm impecáveis durante duas ou três semanas, contrastando com os esmaltes tradicionais, que começam a descascar em poucos dias. O problema é que a aplicação desse tipo de esmalte de unha, geralmente feita em nail bars ou em institutos especializados em manicure, requer o uso de uma lâmpada que combina raios UV (pelo menos 48 watts) e diodo emissor de luz (LED) para secar e fixar cada camada do produto.
Como ressalta a Academia francesa de Medicina, "essas lâmpadas emitem raios ultravioleta tipo A (UVA), que penetram profundamente no tecido cutâneo e são conhecidos por acelerar o envelhecimento e, sobretudo, por favorecer o desenvolvimento de câncer de pele".
Estudos convergentes
O papel das lâmpadas UV para unhas como fator de risco do câncer de pele foi mencionado pela primeira vez num estudo realizado em 2009 [1]. A Academia cita também uma pesquisa publicada em 2022 numa pequena revista especializada, Clinics in Dermatology, que descrevia alguns casos de câncer relacionados com o uso desse tipo de produto nos anos anteriores [2]. Menciona, além disso, um estudo experimental recente [3], que consistiu em expor três tipos de células cutâneas (fibroblastos embrionários de camundongos, fibroblastos humanos e queratinócitos humanos) a uma lâmpada de manicure com emissão de raios UVA. Essa última experiência comprovou que a radiação aplicada aos três tipos de células por uma lâmpada UV para secar esmaltes induz alterações características dos raios UVA, fornecendo provas concretas do potencial cancerígeno desse tipo de aparelho.
No entanto, a Academia reconhece ser urgente e indispensável realizar estudos epidemiológicos em maior escala, a fim de avaliar com mais precisão o risco de carcinoma induzido pela exposição frequente e recorrente a esse tipo de radiação, durante um longo período.
Segundo a Academia, o risco "parece resultar principalmente de três fatores": a pouca idade da usuária quando começa a utilizar o aparelho (20 anos, em média); a frequência de aplicação (5 a 6 vezes por ano) e o uso prolongado do aparelho (durante vários anos). "O efeito acumulado da exposição aos raios UVA constitui um risco sério" que "pode ser agravado por fatores orgânicos individuais", em particular no caso de a cliente ter pele clara ou quadro de imunossupressão.
Campanhas de informação
A Academia francesa de Medicina recomenda a aplicação de um protetor solar nas mãos vinte minutos antes de expô-las às lâmpadas UV/LED, e propõe que seja feito um levantamento do número de aparelhos vendidos a cada ano "a fim de avaliar como o mercado está evoluindo". Sugere também que se adote a obrigação de anexar, a cada aparelho, um folheto impresso que alerte sobre os riscos e informe como se proteger. A instituição preconiza, além disso, que sejam criadas campanhas de informação destinadas tanto ao público em geral como aos profissionais, chamando a atenção para os riscos da "aplicação contínua e prolongada de esmaltes semipermanentes, em particular para pessoas com pele clara".
Por fim, vale lembrar que o câncer não é o único efeito adverso causado pela aplicação de esmaltes semipermanentes. Em 2022, uma avaliação dos efeitos secundários provocados pelos esmaltes semipermanentes constatou não somente três casos de câncer de pele do tipo carcinoma epidermoide induzido (3,4%), como também reações alérgicas (66 casos, 70,5%) e lesões mecânicas nas unhas (23 casos, 26,1%). Esses problemas foram observados unicamente em mulheres, que são de longe as principais clientes dos salões especializados em beleza das unhas.