Em seu recente estudo sobre o impacto das mudanças climáticas para o setor de beleza, Pascale Brousse, fundadora da agência Trendsourcing, se debruçou sobre a inclusão de peles escuras nos processos de produção de cosméticos. A profissional teve a oportunidade de entrevistar e ser a porta-voz de diversos especialistas e estudiosos em problemas específicos a esse tipo de pele. De acordo com a escala elaborada por Thomas Fitzpatrick em 1975, as peles escuras correspondem aos fototipos 4.5.6, abrangendo três tons de pele: morena moderada, morena escura e negra. As categorias de 1 a 3 englobam os tipos de pele mais claros.

"A diversidade é, antes de tudo, um fenômeno estatístico. Menos da metade da população mundial tem pele branca. As peles mais escuras prometem ganhar ainda mais terreno, em particular no mercado dos Estados Unidos e, naturalmente, no da África. A população do continente africano deverá atingir 2 bilhões de habitantes nos próximos anos", explica a consultora.

Entre os especialistas entrevistados, está Haweya Mohamed, cofundadora da The Colors, plataforma criada em 2021 para promover a diversidade e a inclusão no campo da moda e da beleza. Segundo ela, a oferta de produtos cosméticos especificamente voltados para esses fototipos é baixíssima em alguns mercados. "Se as marcas não tiverem estratégias multiculturais, daqui a dez anos elas deixarão de existir", avisa a dirigente.

"Hoje em dia, na França, se uma pessoa de pele negra ou morena escura procurar um creme hidratante básico, não vai encontrar soluções perto de casa. E essa situação não evoluiu nada nos últimos anos. É bem verdade que há um maior número de marcas inclusivas nas representações visuais e em certas categorias de produtos (maquiagem, por exemplo), mas ainda não se pode dizer o mesmo sobre o segmento de cuidados da pele. Claro que é positivo divulgar uma imagem de inclusão, mas é necessário que haja algo de concreto por trás dessa imagem", ressalta Pascale Brousse.

Necessidade de cuidados adaptados

De fato, sujeitos a climas diferentes, os fototipos 4.5.6 apresentam reações e problemas específicos que exigem soluções adaptadas.

"O problema número um é manter a pele hidratada, sobretudo em clima seco e frio, considerando que os fototipos de peles mais escuras são habituados ou feitos para viver em clima quente e úmido", afirma Pascale Brousse, que ressalta a hiper-reatividade desse tipo de pele. "As pessoas aplicam produtos muitas vezes oclusivos, à base de substâncias petroquímicas, sem se dar conta dos danos que elas provocam, como a alta secreção de sebo e, portanto, o aparecimento de acne, além de hiperpigmentação, que faz surgir manchas na pele. Ao procurar a solução para um problema inicial – a hidratação –, o consumidor acaba tendo que enfrentar vários efeitos negativos", continua a consultora.

Imen Jerbi Azaiez, doutora em Farmácia e cofundadora da marca 4.5.6 Skin, confirma a especificidade desse tipo de pele. A jovem marca apoia a criação do primeiro laboratório de pesquisas especializado em testar, desenvolver e fabricar produtos de alto desempenho baseados nas diferenças funcionais e fisiológicas dos fototipos 4, 5 e 6. Esse é um passo importante no caminho de suprir a falta de conhecimento nessa área.

"Há muita coisa que ainda não sabemos sobre a hiperpigmentação, e infelizmente dispomos de poucos laboratórios de pesquisa empenhados em estudar esses tipos de pele. Fizemos uma compilação de 1.400 estudos em dermatologia realizados ao longo de oito anos nos Estados Unidos e constatamos que a porcentagem de indivíduos com fototipos 4.5.6 que participaram desses estudos era de apenas 2%. Além disso, a maioria dos dermatologistas não recebeu formação para atender às necessidades da pele escura. Sem falar que é raro ver dermatologistas com esse tipo de fototipo. Com um nível tão baixo de inclusão, como tirar conclusões científicas na área de dermatologia que possam ser úteis como base para o setor de cosméticos?", indaga a profissional.

Cosméticos para todos

Observamos também uma escassez de dados e testes na categoria de protetores solares. Nesse segmento, os laboratórios desenvolvem sobretudo produtos voltados para a proteção de peles claras, classificadas em um dos quatro primeiros fototipos.

"As queimaduras demoram mais a aparecer nas peles escuras, mas o risco é real. As filiais de grandes empresas têm realizado testes em certos países, como o Brasil, mas é preciso ampliar essa prática", afirma Pascale Brousse.

"As marcas têm a possibilidade de solicitar testes e definir seus próprios critérios de inclusão. Os consumidores originários de várias culturas formam o segmento que registra o crescimento mais rápido nos Estados Unidos, e as mudanças climáticas vão acelerar esse processo também na Europa. Algumas marcas independentes estão emergindo na França, a exemplo da Ustawi, da Nubiance e da Be Radiance. Porém, é absolutamente necessário superar essa falta de inclusividade, tanto em relação aos testes como à ampliação das linhas de produtos", conclui Pascale Brousse.