Houve uma época – e não faz muito tempo – que todo e qualquer produto vindo da China era encarado pelo brasileiro como sinônimo de baixa qualidade. “Isso se deve ao fato de que, no passado, muitos produtos chineses realmente não apresentavam qualidade. No entanto, a indústria chinesa evoluiu de forma extremamente rápida. Podemos observar isso em diversos setores, como eletrônicos e, mais recentemente, automóveis. O mesmo progresso pode ser notado na indústria de cosméticos”, afirma Rodrigo Giraldelli, CEO da China Gate.

Especialista em comércio exterior entre Brasil e China, ele ressalta o imenso mercado interno do país asiático, apontando que os chineses consomem cada vez mais cosméticos. A categoria de maquiagem, por exemplo, tem previsão de crescer 7,4% até 2026, atingindo US$ 11,7 bilhões, de acordo com dados da GlobalData.

Os consumidores chineses estão mais exigentes, o que força as indústrias a aprimorarem constantemente a qualidade de seus produtos. Essa melhoria beneficia tanto o mercado interno quanto os produtos exportados para outros países, incluindo o Brasil”, ele diz.

Importações de cosméticos da China cresceram 80% nos dois últimos anos

A importação de cosméticos chineses representa atualmente 5,8% do total das importações do setor de beleza no Brasil, o que corresponde a um valor de US$ 56 milhões, segundo Giraldelli.

Vale destacar que houve um aumento significativo de 47% nas importações provenientes da China nessa categoria ao longo do último ano. Se focarmos no período de 2022 a 2024, essas importações cresceram 80%. Ao analisarmos categorias específicas de cosméticos, o crescimento registrado é ainda mais impressionante", como ressalta o especialista em importações da China.

Nos últimos dois anos, houve um aumento de 614% nas importações de produtos para os lábios, 114% em pós compactos, 52% em maquiagem para os olhos e 223% em outros produtos de maquiagem preparados (excluindo matéria-prima)”.

Para ele, essa evolução não seria possível sem uma crescente melhoria na qualidade dos cosméticos produzidos pela China. “Os consumidores brasileiros têm experimentado esses produtos, demonstrado aprovação e, consequentemente, gerado uma demanda maior no mercado. Dessa forma, combinando boa qualidade com preços acessíveis, os cosméticos chineses se posicionam de forma competitiva frente à consolidada indústria brasileira de beleza.

E-commerces da China ampliaram consumo de cosméticos importados do país

Outro fator importante que tem contribuído para esse aumento da importação dos cosméticos chineses, de acordo com o executivo, é a popularização no Brasil de grandes plataformas de e-commerces da China, como AliExpress e Shein, apertando as margens dos lojistas e ampliando a competitividade nacional.

Giraldelli relembra que os cosméticos importados legalmente da China seguem regras estabelecidas pela ANVISA. “Os importadores devem realizar esse processo garantindo que os produtos atendam aos critérios de qualidade e segurança exigidos. A ANVISA adota padrões rigorosos de segurança para assegurar a qualidade dos produtos tanto importados quanto fabricados no Brasil. E é importante destacar que produtos que entram no Brasil ilegalmente, por meio de descaminho (sem registro ou fiscalização pelos órgãos competentes), não passam por nenhum tipo de verificação e podem representar riscos à saúde dos consumidores.

O consumo de cosméticos chineses no Brasil continuará em expansão nos próximos anos, segundo o especialista em comércio exterior. “O excelente custo-benefício que esses produtos oferecem deve atrair cada vez mais os consumidores brasileiros. Considero fundamental investir em estratégias que reforcem a confiança do público, com a divulgação de informações claras sobre qualidade e segurança, além de campanhas que mostrem os diferenciais e a evolução da indústria chinesa nesse setor”.