No Brasil cerca de 56% da população se declara preta ou parda. Esse público movimentou 1,7 trilhões de reais em 2023, de acordo com o estudo “Rotinas e Hábitos de Beleza do Consumidor Negro”, realizado pela Mintel, mas ainda encontra dificuldades para adquirir produtos desenvolvidos exclusivamente para suas peles.
“Durante muitos e muitos anos, a população negra foi invisível para o mercado de beleza, mesmo consumindo e movimentando esse setor”, afirma Rosangela Silva. Em ela fundou em 2016 a marca Negra Rosa, pioneira em beleza negra no Brasil, com um portfólio que inclui skincare, proteção solar, maquiagem e cuidados com o cabelo.
Para a empreendedora, as vendas no segmento poderiam ser muito mais representativas. “Cada vez que o consumidor encontrar cosméticos que conversem diretamente com ele e que respeitem suas características e necessidades, ele tende a testar o produto.” Além de uma maior oferta, ela aponta a necessidade de uma distribuição mais ampla e eficiente no país. “Muitas vezes temos o que o cliente precisa e ele sabe, mas não consegue encontrar em lojas, farmácias ou perfumarias próximas.”
Por isso, iniciativas de grandes players são essenciais para o desenvolvimento da categoria. Caso da NIVEA, que apresentou a coleção Beleza Radiante. “Lançamos em 2022, primeiro no Brasil, uma linha para atender às demandas específicas da pele negra”, diz a groupper de marketing de skincare Verena Christian.
Pele seca, estrias e tom irregular são as principais queixas
Ela conta que a marca sempre quis uma solução que suprisse essa carência, mais do que apenas chancelar um produto com rótulo novo para a pele negra. “Realizamos amplas pesquisas com mulheres brasileiras e de países como África do Sul e Nigéria, na faixa de fototipos IV a VI (negras claras a retintas) para entender as minúcias dessa pele. As principais questões que preocupam foram ressecamento (40%), estrias (38%) e tom irregular (30%), especialmente em partes mais ásperas, como cotovelos, joelhos e juntas”.
Com hidratantes corporais de cuidado intensivo e para uniformização da pele, além de uma versão facial que trata a oleosidade, a linha não só complementa o portfólio, mas também ajuda a NIVEA a se manter competitiva e relevante em skincare, segundo Christian. “Desde 2022, vemos mais empresas se dedicando às peles pardas e pretas. Temos orgulho de sermos a marca massiva que desenvolveu um produto pensando nisso. Iniciativas como essa também têm o potencial de educar o mercado”.
Outra marca que investiu no segmento foi a Raavi Dermocosméticos, lançando também em 2022 o Hidratante Corporal Pele Negra. Com manteigas de carité e cacau, ele reduz o ressecamento e aspereza da pele e ajuda a prevenir estrias e combater radicais livres, segundo a head de marketing Glaucia Rotta.
“O skincare corporal tem ganhado força, mas sabemos que a oferta de produtos para a pele negra ainda é menor. Optamos por desenvolver um hidratante, mas este é o primeiro de uma série de produtos que pretendemos lançar para suprir esse déficit, pois, independentemente do tom de pele, todos precisamos de esfoliantes, antirrugas e cremes que combatem estrias e celulite”, ela comenta.
Importância do sensorial e experiência de uso no desenvolvimento dos produtos
Nathalia Tavana, analista de marketing para personal care da BASF, lembra que, além dos ingredientes, o sensorial e a experiência de uso também são fatores essenciais no desenvolvimento de produtos para peles negras. “Quando um protetor solar não é formulado considerando as características desse tipo de pele, pode deixar um resíduo branco indesejável na pele, o temido ’white cast’, que muitas vezes leva o consumidor a não utilizar mais este tipo de produto, sentindo que não foi pensado para ele.”
Mas, em sua opinião, felizmente esse cenário vem mudando. “Já podemos observar nas prateleiras o aumento de produtos voltados para peles ricas em melanina. Embora ainda haja um longo caminho a percorrer, acredito que a indústria cosmética está cada vez mais consciente da importância de responder a essas necessidades, investindo em pesquisa e desenvolvimento para criar produtos que realmente atendam a todos", finaliza Tavana.