O estudo, liderado por Kim Harley e Brenda Eskenazi da Universidade da Califórnia em Berkeley e publicado na revista Human Reproduction, encontrou uma relação linear entre a exposição de certos ftalatos, parabenos e fenóis e o início da puberdade em meninas [1].
Para chegar a essa conclusão, os investigadores analisaram dados de 338 bebês e suas mães. As informações vieram de um estudo realizado entre 1999 e 2008, que examinou cadeias carbônicas de ftalatos, parabenos e fenóis a partir de testes de urina das mães grávidas e, nove anos depois, testaram a urina de seus filhos atrás de sinais do início da puberdade.
Mães e filhos
Pesquisadores recrutaram mulheres grávidas nos Estados Unidos em 1999-2000. A maioria deles eram latinas vivendo abaixo da linha de pobreza definida no nível federal e sem diploma do ensino médio.
Questionários foram realizados durante a gravidez das mães. A equipe de pesquisa também mediu as concentrações de diferentes moléculas na urina coletadas das mães durante a gravidez e das crianças aos 9 anos de idade.
Três tipos de substâncias foram alvo:
– Três metabolitos de ftalato (ftalato de monoetilo (MEP), ftalato de mono-n-butilo e ftalato de mono-isobutilo)
– metilparabeno (ou 4-hidroxibenzoato de metilo) e propilparabeno (ou 4-hidroxibenzoato de propilo),
– e quatro outros fenóis (triclosan, benzofenona-3 e 2,4 e 2,5-diclorofenol).
Os três componentes químicos citados acima foram encontrados em 90% das amostras, com exceção do triclosan (um tipo de fenol), que foi detectado em 73% das amostras de urina de gestantes e 69% das amostras dos meninos e meninas de nove anos de idade.
Ao mesmo tempo, a idade da puberdade foi avaliada em 179 meninas e 159 meninos a cada 9 meses, entre 9 e 13 anos, com ao método de classificação clínica de Tanner.
Exposição pré-natal
O estudo mostrou que as meninas expostas a essas substâncias são mais propensas a ter puberdade precoce. O maior risco foi para as meninas cujas mães estavam mais expostas a três moléculas: monoetileno de ftalato (MEP), triclosan (TCS) e o 2,4-diclorofenol (2,4-DCP).
Os pesquisadores descobriram que concentrações mais altas de MEP e triclosan na urina pré-natal estavam associadas a mudanças no tempo de desenvolvimento das crianças. Quanto mais altas as concentrações, mais cedo aparecem os sinais da puberdade.
Possibilidade de “causalidade inversa”
Estudos já foram realizados em ratos (Bateman e Patisaul 2008 e Rasier et al. 2006), mostrando que fenóis, parabenos e ftalatos podem ter efeitos desreguladores do sistema endócrino. No entanto, nenhum estudo examinou os efeitos dessas substâncias em seres humanos, tanto durante o período pré-natal como durante o período pré-puberal. "Isso complica a comparação com outros estudos", explicam os autores.
Os pesquisadores também destacam que os resultados da exposição peripubertal aos metil e propil parabenos podem refletir uma ‘causalidade inversa’. "Meninas que têm a puberdade precoce podem estar mais inclinadas a utilizar produtos de higiene e de cuidados corporais", indicam os autores.
De fato, esses produtos químicos são rapidamente metabolizados e são encontrados muito rapidamente na urina (dentro de 24 a 48 horas). Uma a duas medições de urina por estágio de desenvolvimento podem não refletir com precisão a exposição usual.
Segundo aos autores, a outra limitação do estudo é uma amostra limitada a uma comunidade de crianças latinas pobres que vivem em comunidades rurais. Por conseguinte, outros fatores de contaminação, como pesticidas, não podem ser excluídos.
Apesar dessas limitações, os autores consideram que o estudo é metodologicamente robusto, com medidas longitudinais e biomarcadores de exposição em dois períodos críticos do desenvolvimento infantil. “Uma hipótese é que as substâncias químicas no meio ambiente podem estar desempenhando um papel, e nossas descobertas apóiam essa ideia”, disse o Dr. Harley.