A fermentação é comprovadamente uma fonte interessante de alternativas às substâncias químicas derivadas de petróleo. Lançada em 2012 por Jérémy Pessiot, doutor em Biologia e Química, o programa Afyren objetiva a substituição de moléculas de origem fóssil (indispensáveis para uma grande variedade de indústrias, em razão de suas propriedades antibacterianas, olfativas ou conservantes) por moléculas de base biológica. A empresa acaba de concretizar a fase industrial do projeto, com a inauguração, no dia 29 de setembro, da Afyren Neoxy, sua primeira biorrefinaria destinada à produção de ácidos carboxílicos a partir do aproveitamento de biomassa.
"Nesse projeto, buscamos aliar rentabilidade e responsabilidade ambiental, criando uma fábrica que produz com resíduo zero e baixíssima emissão de CO2: em comparação com estruturas convencionais, as emissões são cinco vezes menores, e as operações seguem o modelo de economia circular", explica Joachim Merziger, Diretor Comercial da Afyren.
Ácidos orgânicos de base 100% biológica
A tecnologia da Afyren é baseada num processo de fermentação biomimética de subprodutos da indústria de açúcar, usando matérias-primas livres de OGM. Graças a essa tecnologia, é possível produzir uma família de sete ácidos orgânicos inteiramente à base de biomassa, de altíssima qualidade e pureza, contendo entre dois e seis átomos de carbono. Os ácidos fabricados pela Afyren atendem aos critérios de definição de aromas naturais estipulados pelo regulamento (CE) n°1334/2008 e têm certificação Ecocert e Cosmos. Produzidos na Europa em circuito curto, eles oferecem excelente rastreabilidade. Os ácidos podem ser usados como ingredientes diretos ou transformados em produtos derivados, oferecendo ativos de grande utilidade para as indústrias de cosméticos e perfumes, por exemplo.
A título de ilustração, o ácido propiônico produzido pela Afyren, atualmente disponível apenas na forma de derivado de petróleo, possibilitará a criação de ésteres utilizados tanto em fragrâncias como em aromas para produtos alimentícios. O ácido acético, por sua vez, entra na composição de ingredientes empregados na fabricação de esmaltes para unhas.
"Essa nova família de ácidos é como uma caixa de ferramentas que abre caminho para novos derivados inteiramente desenvolvidos a partir de biomassa. Estima-se que o mercado de ácidos em geral movimente 13 bilhões de euros. Portanto, temos pela frente um imenso campo de possibilidades para que substâncias obtidas a partir de recursos fósseis venham a ser substituídas por soluções à base de biomassa", confirma Joachim Merziger. "Muitas empresas dos setores de cosméticos e de perfumes definiram objetivos ambiciosos no sentido de tornar seus produtos mais sustentáveis, e é para elas que a Afyren pretende oferecer soluções e ferramentas", continua o Diretor.
Duas novas unidades em fase de estudo
Listada na bolsa de valores em 2021, a Afyren conseguiu captar 70 milhões de euros para financiar seus projetos de P&D e dar início à construção da primeira unidade industrial. Atualmente, a empresa estuda a possibilidade de ampliar a produção para outras regiões (América do Norte e Sudeste Asiático), com previsão de inaugurar novas unidades em 2026/2027.
"O objetivo é atender clientes que atuam em diversos pontos do planeta, fornecendo nossos ingredientes para três zonas industriais importantes: Europa, Ásia e América do Norte. O abastecimento de biomassa será local, pois esse é um dos elementos essenciais da estratégia da Afyren. A ideia é assegurar o fornecimento para os clientes, potencializando os benefícios dos circuitos de produção curtos e a redução da pegada de carbono", explica Joachim Merziger.
Projeto industrial de âmbito europeu
Para obter esses resultados, a Afyren contou com o apoio do projeto AFTER-BIOCHEM, que reúne o know-how de 12 empresas europeias responsáveis por verificar a viabilidade do projeto industrial e a pertinência do uso dos produtos.
"Trata-se de um projeto dentro do projeto", ressalta Joachim Merziger. "Lançado pela Afyren, o AFTER-BIOCHEM reúne participantes de cinco países europeus com o objetivo de consolidar, de ponta a ponta, os processos da cadeia industrial dessa primeira biorrefinaria. As empresas que integram o projeto AFTER-BIOCHEM são originárias de diversos setores, como a Südzucker, maior produtora de açúcar do mundo e fornecedora dos subprodutos da Afyren, ou a Fiabila, que atua no setor de cosméticos, e a Firmenich, especialista de aromas e perfumes. Além delas, contamos com muitas companhias que representam as indústrias de alimentação humana, nutrição animal, química industrial etc.", conclui Joachim Merziger.