Lumberssexual. A palavra pode não ter entrado para o vocabulário dos brasileiros ainda, mas vem fazendo uma revolução no setor de beleza masculina nos últimos anos. O termo faz referência ao “estilo lenhador” (do inglês ‘lumberjack’), com barba longa e espessa, cabelo despenteado e camisa de flanela para compor o visual. Apesar de não combinar perfeitamente com o clima tropical, os homens brasileiros aderiram à moda e o mercado enxergou aí uma oportunidade de empreender.
Primeiro foram as barbearias, que andaram praticamente esquecidas por décadas e voltaram com tudo, se espalhando rapidamente pelo país. De acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), desde 2010, o número de estabelecimentos deste tipo aumentou mais de 500% no Brasil.
Simultaneamente, o mercado masculino de cosméticos caminha para a primeira posição no ranking mundial, segundo o Euromonitor International. Com um crescimento médio de 7,1% ao ano, o Brasil deve ultrapassar os EUA até 2019, com vendas estimadas em US$ 6,7 bilhões – e um cenário perfeito para empresas que investem em cosméticos para barba e bigode.
Samuel Tonin, publicitário (e barburdo há 10 anos), tinha dificuldade em encontrar produtos para cuidar de sua barba. Usava importados, que eram caros e demoravam para chegar ao país. Ele percebeu que não era o único, que este era um problema coletivo, e foi assim que surgiu a ideia da Sobrebarba, primeira marca brasileira de cosméticos voltados ao nicho.
Em 2014, junto da também publicitária Fernanda Kawazoe, ele iniciou uma pesquisa em redes sociais para conhecer hábitos e preferências dos homens de barba. Eles reuniram 20 mil seguidores, que puderam opinar no desenvolvimento dos produtos, desde a escolha das embalagens até as fragrâncias que seriam adotadas. “A pesquisa foi essencial para a criação da Sobrebarba”, diz Tonin.
Lançada em 2015, com um investimento de R$ 260 mil, a marca tem em seu portfólio xampu, balm hidratante e óleo para barba, além de cera de bigode e uma coleção de pentes de madeira fabricados manualmente, com dentes cortados um a um. “Os homens sempre usaram barba, porém nunca tiveram um produto pensado exclusivamente para eles”, explica.
Na sequência da Sobrebarba, outras empresas brasileiras estrearam no Brasil, como a Don Alcides, a Barber Shop e a Barba Urbana, que tem Ana Kascher como uma das proprietárias. “Observamos um mercado promissor e carente de marcas nacionais. Decidimos lançar uma linha de produtos competitiva, de qualidade, com preços acessíveis e agilidade na entrega”, afirma a sócia da marca.
Hoje, a Barba Urbana está disponível em cerca de 70 pontos de vendas de 11 estados brasileiros, que vão de barbearias a lojas de roupas, além de seu e-commerce. Kascher acredita ser viável a introdução dos artigos em redes varejistas, mas prefere agir com cautela. “Não adianta querer atender uma rede com 30 lojas e entregar ponto a ponto. A logística inviabilizaria o negócio”, explica.
A Sobrebarba, que atualmente comercializa os produtos em sua loja virtual, em barbearias e salões de beleza, almeja as prateleiras de supermercados e drogarias no futuro. “Já fizemos alguns contatos a respeito”, informa Tonin.
Questionados se a barba pode ser uma moda passageira e se não seria um risco apostar em um segmento tão específico, ambos são categóricos ao negar. “Não acreditamos no uso da barba como uma moda que vai e vem”, diz Tonin. “Empreender é um risco em qualquer setor, mas a barba superou muitos paradigmas e veio para ficar”, diz Kascher. “Costumo sempre dizer, a barba é da natureza dos homens. Eles só careciam de meios para poder cultivá-la com carinho”, acrescenta a empresária.