Presente em diversas etapas da cadeia de cosméticos, a água tem sido alvo de estratégias sustentáveis na Ásia. Multinacionais e fabricantes locais, como a taiwanesa O’Right, que atua no segmento de cabelos, e a indiana Azafran Innovacion, que tem apostado em ingredientes baseados em plantas e biodegradáveis, são algumas das empresas que vêm apostando no uso racional da água em seus produtos e processos.
Uma das iniciativas adotadas pelos asiáticos é a redução ou total dispensa do uso da água na formulação de produtos beleza e de cuidados pessoais, a exemplo de máscaras faciais e xampus a seco. Outros produtos são voltados para a redução do uso de água pelo consumidor, incluindo lenços demaquilantes, adesivos antitranspirantes, lenços umedecidos e produtos com enxágue fácil ou sem enxágue, como leites de limpeza.
Nas formulações, a água é usada para reagir com os demais componentes, como emulsionantes, espessantes, modificadores de reologia, emolientes e conservantes e, assim, formar a estrutura do produto. Segundo Maria Coronado Robles, consultora sênior da Euromonitor International, o elemento natural responde, em média, por 46% das formulações de produtos de beleza e cuidados pessoais. "Os produtos para cabelos e banho são responsáveis por cerca de 70% do total de água utilizada nesta indústria".
Uma pesquisa divulgada em 2015 pela consultoria internacional Mintel apontou a redução do uso de água na fabricação de produtos como uma das quatro principais tendências de beleza a impactar o mercado global até 2025.
A tendência verificada no continente asiático também encontra adesão em outros países, incluindo o Brasil, conforme aponta a Ecovia Intelligence, agência internacional que desenvolve pesquisas de mercado, consultoria e treinamento especializados na área de bens de consumo naturais e orgânicos. Seu presidente e fundador, Amarjit Sahota, destaca a marca brasileira Batiste, que produz xampus a seco e tem reportado grande interesse dos consumidores por seus produtos. "Esta tendência foi parcialmente motivada pela seca ocorrida no país alguns anos atrás, quando os salões de beleza recorreram aos xampus a seco por conta da escassez de água", ele afirma.
Robles explica que os produtos a seco ainda são considerados itens de uso emergencial, entre as lavagens normais. Além disso, este é um mercado em que os consumidores percebem a espuma como uma indicação de ação de limpeza, o que demanda maior utilização de água. “Os surfactantes aniônicos com alta atividade espumante, que exigem grande volume de água para enxaguar, são os mais utilizados mundialmente, respondendo por 90% do mercado global de produtos de beleza e cuidados pessoais. Eles são encontrados predominantemente em produtos para cabelo e banho”, afirma.
Sahota pontua que a educação do consumidor para o uso sustentável da água é um dos grandes desafios para o desenvolvimento de formulações sem o elemento natural na indústria da beleza. "É preciso explicar o significado de ’sem água’ e manter a confiança dos consumidores intacta", explica. Também com foco nos usuários, mas tendo em vista a disseminação de uma mensagem de preservação da água, a fabricante alemã All Natural Cosmetics tem uma linha de produtos, incluindo sabonetes, cujas embalagens destacam a mensagem "economize água durante meu uso". Uma das líderes mundiais na fabricação de produtos de higiene oral, a Colgate-Palmolive também criou uma campanha de incentivo à economia de água enquanto os consumidores escovam os dentes.
Sahota afirma ainda que há uma tendência geral na indústria cosmética de reduzir a quantidade de água utilizada em todos os processos da cadeia. A limpeza de equipamentos e instalações fabris, por exemplo, utiliza um grande volume de água. Segundo ele, empresas como P&G, Natura, Unilever e L’Oréal já estão implementando programas de gestão deste recurso.