Uma pesquisa divulgada no final de 2021 pela empresa Technavio aponta que o mercado global de cosméticos livres de crueldade animal (cruelty-free) deve aumentar quase US$ 4 bilhões até 2025, com uma taxa de crescimento composta de cerca de 4,8% ao ano, número considerado bastante positivo no cenário pós-Covid-19 e em comparação com o setor brasileiro de cosméticos, que registrou queda de 2,8% nas vendas no ano passado.
Com o maior interesse por cosméticos cruelty-free e também livres de qualquer substância de origem animal – ou seja, veganos –, começa a ganhar popularidade na indústria de cosméticos, e especialmente na categoria de cuidados capilares, a queratina vegetal. A proteína rica em aminoácidos, obtida a partir da hidrólise de peptídeos de ingredientes como arroz, trigo, milho, soja e algas, é uma alternativa ao ativo de origem animal, normalmente extraído de unhas, chifres, cascos, peles e pelos de aves e gados.
“Felizmente, a tendência é que os produtos veganos ganhem cada vez mais espaço no mercado. Por isso, é muito provável que a queratina vegetal substitua totalmente a queratina animal no futuro”, afirma Kamila Fonseca, diretora de marketing da Salon Line. Com a maior parte de seu portfólio formado por produtos veganos, a marca trabalha atualmente com as duas versões de queratina.
“A queratina vegetal possui todos os requisitos para entregar alta performance em haircare, com desempenho similar à animal”, diz Fonseca. “Os pesos moleculares dos hidrolisados vegetais tendem a ser menores do que os de origem animal, por isso podem oferecer ação mais reparadora, enquanto a queratina animal apresenta mais tendência a formar uma espécie de filme nos fios”, acrescenta.
Lançada em 2021, a Wess Professional já nasceu 100% vegana, usando apenas queratina vegetal de fornecedores internacionais em suas fórmulas capilares. “Ela possui a mesma concentração de aminoácidos da queratina animal, oferecendo os mesmos benefícios. A penetrabilidade também é a mesma, já que a queratina vegetal é extraída de plantas com estruturas moleculares mais flexíveis”, explica o diretor comercial e de marketing Renato Hashimoto.
O executivo fala que a queratina vegetal não deixa os fios pesados, ao contrário da queratina animal, que pode deixar a fibra enrijecida, e cita ainda outras características favoráveis do ativo natural. “Algumas queratinas vegetais contêm até 21 aminoácidos, importantes para o fortalecimento e nutrição dos fios. Depois, seu processo de extração vem de plantio e cultivo. Com o aumento da produção de grãos no mundo todo, as fontes de queratina vegetal são fartas e evitam a crueldade e o sacrifício animal”.
Outra marca de haircare que atualmente trabalha apenas com queratina vegetal é a Prohall. Para a diretora Shalisa Boso, uma das vantagens da versão vegetal do produto é a grande diversidade de espécies que podem fornecer os extratos para sua composição. A queratina usada pela empresa, por exemplo, é derivada do extrato de bambu. Para ela, a queratina vegetal deve ganhar mais adeptos. “As marcas já estão migrando e adotando apenas o uso dela, assim como nós”, afirma.
A Haskell Cosméticos também passou por essa transição recentemente. Ao reformular todo seu portfólio, investindo em formulas mais vegetalizadas, a marca de produtos capilares trocou a queratina animal da sua icônica linha Cavalo Forte pela queratina vegetal. “A vegetalização é uma evolução de nossas fórmulas. Retiramos componentes que não vinham mais ao encontro de nosso propósito, que é caminhar rumo a um futuro melhor”, diz a gerente de marketing Mayara Araújo.