Nascida em Duque de Caxias (RJ), Rosângela Silva sempre esteve ligada à beleza. Filha de uma cabelereira, foi revendedora de cosméticos e, quando criou em 2010 um canal no Youtube sobre maquiagem para negras, testando na própria pele produtos de diversas marcas, descobriu que, assim como ela, muitas outras mulheres pretas e pardas tinham dificuldade de encontrar itens adequados às suas peles.
Foi assim, entendendo essa grande lacuna de mercado no Brasil – país onde 56% da população se autodeclara negra –, que ela decidiu empreender e criar em 2016 a Negra Rosa, lançando maquiagens para pele de pessoas negras e produtos para o cuidado dos cabelos crespos naturais. “A Negra Rosa não nasceu para ser uma marca para todo mundo. Ela nasceu com o objetivo de ser uma marca para mulheres negras”, afirma sua fundadora.
Com vendas online e por meio de revendedoras, a marca independente cresceu de forma orgânica, se tornando conhecida por ter desenvolvido os tons mais escuros de bases no Brasil, sombras e batons ultrapigmentados e finalizadores que valorizam cabelos crespos e cacheados, todos criados e testados por mulheres negras.
Marca foi adquirida pela Farmax no final de 2022
O portfólio contava com cerca de 60 SKU’s no final de 2022, quando a marca foi adquirida pela Farmax. Com mais de 40 anos de atuação, a empresa familiar de Divinópolis (MG) é uma das maiores indústrias de cosméticos e higiene pessoal do país. Fabricando para terceiros (como a Needs, da RaiaDrogasil) e com marcas próprias, como Sunless e Hidraderm, está presente em 94% das farmácias do Brasil.
Com a compra, o objetivo era ampliar a distribuição dos produtos Negra Rosa, torná-los mais acessíveis, investir em pesquisa e lançar novas linhas. Duas novas linhas acabam de chegar ao mercado e o destaque é a estreia da marca em skincare. “Para mim é muito importante ouvir as mulheres negras para saber o que estão querendo. Nós perguntamos quais eram as necessidades que elas tinham e não eram atendidas. Primeiro teve essa escuta e aí sim formularmos a linha de cuidados para a pele”, afirma Silva.
Skincare simples, acessível e específico para necessidades das pessoas negras
A proposta é de um skincare simples e acessível. São cinco itens – água micelar, sabonete esfoliante, gel-creme hidratante e os séruns renovador e uniformizador – com preços entre R$ 20 a R$ 50. Os produtos também respeitam as características da pele de pessoas negras. Bioquímica do departamento de P&D da Farmax, Vanessa Costa explica que este tipo de pele tem mais camadas de células estrato córneo, por isso tende a ser mais espessa. Ela também produz mais melanina, o que pode ocasionar hiperpigmentação, e libera mais sebo, sendo mais propensa à oleosidade, acne e cravos. “É importante evitar produtos de limpeza muito agressivos ou que removam todo o óleo natural, pois isso pode levar a uma produção ainda maior de sebo como um mecanismo de defesa da pele”.
A fundadora da Negra Rosa conta que entrar neste segmento é um novo desafio. “Criar produtos para pele é uma coisa bem mais profunda, precisa de mais técnica e muito mais estudo. Os produtos são pensados para resolver uma necessidade, como uma mancha ou um controle de oleosidade. A maquiagem é mais, digamos, estética. Mas ela também tem suas particularidades e minha experiência com maquiagem com certeza, me fez ser mais criteriosa com o skincare e acredito que isso vou levar para todos os novos produtos que vamos trazer”, diz Silva.
A Negra Rosa também lançou uma linha de óleos, à base de rosa mosqueta, com três produtos para tratamentos capilar, facial e corporal, e o portfólio deve crescer ainda mais. “Queremos ser referência em pele de pessoas negras. Quando pensarem em um produto, saberem que a Negra Rosa tem. Essa é a nossa ambição e vamos trabalhar para isso nos próximos anos, sempre de olho no mercado, mas principalmente no que vai funcionar na nossa pele, de uma forma real e acessível”, declara Silva.