Diante do desafio do século - reduzir o consumo mundial de plásticos e gerenciar melhor o fim do ciclo de vida das embalagens -, as soluções de reciclagem são o assunto do momento. A União Europeia, por exemplo, fixou objetivos ambiciosos, exigindo que, até 2025, as embalagens sejam fabricadas com 50% de plástico reciclado. Mas, por dependerem de infraestruturas de coleta que, em função do país, são mais ou menos bem desenvolvidas, e de tecnologias de reciclagem termomecânica que oferecem possibilidades relativamente limitadas, a indústria de reciclagem nem sempre consegue fornecer a quantidade de plástico necessária atualmente.
A tecnologia termomecânica consiste em triturar e derreter alguns tipos de plásticos, geralmente os mais usuais, desde que não sejam coloridos. Atualmente, o processo oferece a vantagem de aumentar a vida útil do plástico, mas esbarra em problemas difíceis de resolver: a disponibilidade reduzida de recursos e o resultado qualitativamente inferior ao material virgem.
"A reciclagem mecânica tem seus limites, pois não é possível reciclar indefinidamente uma mesma embalagem, visto que o plástico aos poucos vai perdendo suas propriedades mecânicas. Além disso, muitas substâncias contaminantes não podem ser eliminadas por esse método", explica um fabricante.
Transformar o velho em novo
Diante do desafio do abastecimento em rPET (PET reciclado), alguns fabricantes e start-ups da área de plasturgia já estão trabalhando no desenvolvimento de uma técnica de reciclagem de nova geração, baseada em um processo químico de despolimerização e repolimerização do plástico PET. Ao contrário do método mecânico, essa tecnologia oferece a grande vantagem de produzir, após o processo de reciclagem, uma resina totalmente virgem.
"A partir de material exclusivamente composto por resíduos, essa tecnologia será capaz de gerar uma quantidade de produto muito maior, com qualidade idêntica ao material virgem", indica Gilles Swyngedauw, diretor de Inovação e RSE da Albéa, que acaba de assinar o Compromisso Global por uma Nova Economia do Plástico, promovido pela Fundação Ellen MacArthur, oficializando assim seu apoio ao princípio de economia circular.
As marcas estão se mobilizando e já começaram a enviar formalmente seus pedidos aos futuros fornecedores desse novo ouro verde. A L’Oréal e a L’Occitane, por exemplo, assinaram acordos de parceria com a empresa canadense Loop Industries, uma das pioneiras da tecnologia de reciclagem química.
Na França, a Carbios, empresa de bioplasturgia sediada na cidade de Clermont-Ferrand e também pioneira em matéria de reciclagem química, está atualmente industrializando uma solução promissora, baseada em um processo de transformação enzimática. "O método consiste em quebrar a cadeia de moléculas do plástico, graças a uma enzima específica ao PET. O processo objetiva desconstruir esse polímero para recuperar os dois monômeros iniciais que, em seguida, são repolimerizados, produzindo um material idêntico a um PET virgem", explica Martin Stephan, diretor-geral adjunto. Essa tecnologia fornecerá à indústria petroquímica a possibilidade de produzir PET "virgem" não somente a partir de petróleo, como também a partir de resíduos, inclusive roupas de poliéster e plásticos coloridos. O método pode ser utilizado indefinidamente. A expectativa é que o material comece a ser produzido em 2023-2024. "Não se trata de reúso, mas realmente de reciclagem", continua Martin Stephan.
Especulação e incertezas
Para os fabricantes de embalagens, principais prejudicados pelo problema de abastecimento de plásticos reciclados, as perspectivas oferecidas pela reciclagem química representam, sem dúvida alguma, uma fonte adicional de recursos de melhor qualidade.
No entanto, esse novo modelo vem sendo alvo de muitos questionamentos. Em termos concretos, ao contribuir financeiramente, por meio da pré-reserva do produto, para o trabalho de pesquisa e desenvolvimento que vem sendo realizado pelos fornecedores de rPET, as marcas eliminam a possibilidade de escolha por parte dos fabricantes de embalagens com quem mantêm parceria, impondo um único fornecedor para o futuro.
Enquanto esse futuro não chega, a divulgação dos acordos de investimento oferece às marcas um lugar de destaque na mídia e, ao mesmo tempo, faz crescer as apostas em torno dessa tecnologia tão esperada.