Originária das Filipinas, a flor de ylang-ylang chegou à Ilha da Reunião no século XVIII, levada por navios franceses. No início do século XX, a planta migrou para Comores e Madagascar.
350 destilarias
Para as ilhas Comores, o ylang-ylang é uma fonte de divisas indispensável à economia local, da mesma forma que a baunilha e o cravo-da-índia. A cada ano, esse pequeno Estado produz entre 30 e 40 toneladas de óleo essencial de ylang-ylang, superando Madagascar. A produção é desenvolvida principalmente na ilha Nzwani (Anjonan), onde foram instaladas 350 destilarias.
O ylang-ylang rendeu aos cofres do país 1,5 milhão de euros em 2013 e 2014, o que corresponde a 11% das receitas de exportação.
"O ylang-ylang representa um potencial significativo de renda e divisas para o país", estima o economista Ibrahim Ahamada, do Fundo Monetário Internacional (FMI). Porém, é indispensável que haja "uma séria reorganização da cadeia produtiva". Esse trabalho teve início há um ano, com ajuda de fundos de investimentos internacionais. Para preservar – ou até aumentar – a produção, é necessário investir muito, bem como adotar medidas contra o desmatamento.
Desmatamento e êxodo rural
Há alguns anos, autoridades e agrônomos vêm alertando para as ameaças que pairam sobre o ylang-ylang.
Cultivada de forma semelhante à da videira, essa árvore requer constante atenção. Sem poda regular, o tronco fica alto demais e os agricultores não conseguem alcançar as flores. Além disso, as plantações do arquipélago já têm mais de cem anos e estão envelhecendo. "Apesar do peso enorme que o óleo de ylang-ylang representa para a economia, é surpreendente constatar que não existe nenhum programa de melhoria da planta", ressalta a agrônoma Céline Benini, da Universidade de Liège, na Bélgica.
Os especialistas também incitam o país a reagir diante da diminuição desenfreada da cobertura florestal: -25% em 20 anos. Além disso, em razão do abastecimento irregular de energia elétrica, a destilação do óleo essencial de ylang-ylang deve ser feita em velhos alambiques com caldeira a lenha.
Para completar, uma outra ameaça paira sobre o ylang-ylang: a dureza do trabalho realizado pelos camponeses. As plantações exigem uma vasta operação de limpeza das ervas daninhas, de poda e de colheita, produzindo ao final uma safra de 25 kg a 40 kg por dia e por agricultor na alta estação. A remuneração desse penoso trabalho é de aproximadamente 50 euros por mês. Como consequência, a continuidade da produção está em risco, visto que os jovens preferem tentar a vida na cidade ou emigrar.
Garantir o abastecimento
Os fabricantes de perfumes têm plena consciência das dificuldades e ameaças que pesam sobre a produção dessa planta estratégica, que não é a única a sofrer com esse tipo de problema.
"Em perfumaria, identificamos atualmente uma centena de matérias-primas críticas, para as quais é necessário garantir um patamar mínimo de estabilidade de preços e qualidade. Muitas dessas matérias-primas provêm de países vítimas de êxodo rural, onde as terras cultivadas são abandonadas por agricultores que partem para grandes metrópoles sem bilhete de volta. Na Índia, no Laos, em Uganda e no Haiti, por exemplo, estamos investindo em programas de apoio à população rural, para que os agricultores possam continuar plantando com a garantia de uma renda estável e de um mercado onde possam comercializar a produção no longo prazo. Oferecemos, a essas pessoas, uma remuneração segura, com a qual eles podem plantar, investir e inovar. Essa organização foi desenvolvida como um sistema permanente de apoio", explicava recentemente Olivier de Lisle, responsável pela divisão Fine Fragrance da Firmenich, em uma entrevista ao site Premium Beauty News.
Em relação ao ylang-ylang de Comores, a Chanel explica que vem investindo para convencer e incentivar os fornecedores a plantar árvores destinadas especificamente à queima nas caldeiras. A Maison francesa de perfumes compromete-se também a respeitar a mão de obra e pagar salários dignos aos trabalhadores.