Brazil Beauty News - Como nasceu o frasco da nova fragrância da marca Karl Lagerfeld?
Alnoor - Quando apresentamos o design do novo frasco para o perfume Karl Ikonik da Karl Lagerfeld, cuja licença foi concedida à Interparfums, todos os fabricantes de vidro recusaram o projeto. A produção do frasco apresentava uma série de complexidades: excesso de detalhes, instabilidade, a altura incomum... Solicitei a cada fabricante que fizesse uma lista dos problemas, em função da própria capacidade de produção e dos equipamentos disponíveis. A partir desses relatórios, retrabalhei o design, de forma a eliminar as dificuldades levantadas pela Heinz Glaz, fabricante selecionado. E assim nasceu o frasco atualmente disponível no mercado.
Para a Caron, também precisei lidar com a relutância dos fabricantes em relação ao empilhamento dos frascos e à fina espessura das paredes. Uma vez solucionados os problemas, o desafio seguinte foi contornar as dificuldades por meio da otimização do design, mas sem desnaturar o projeto. Esse é um dos principais talentos da agência.
Brazil Beauty News - Como inovar na criação de um frasco de perfume sabendo que ele deverá ser produzido em grande escala?
Alnoor - Meu maior diferencial é ter um perfil transversal. Sou formado em engenharia, minha carreira teve início no setor da moda e atualmente faço parte da equipe de designers oficiais da Roche-Bobois. Os clientes – como Caron, Boucheron, Jimmy Choo e Essential Parfums – conhecem minha trajetória e quando me chamam é geralmente para acompanhar um projeto em todas as suas dimensões.
Meu campo de visão é sempre muito amplo. No caso de empresas que contam com estúdios de design internos, normalmente minha contribuição é no aspecto de inovação e criatividade, seja para um modelo de frasco ou para o material promocional destinado às lojas. O que essas empresas buscam é integrar outras maneiras de pensar, um olhar externo e independente. O que eu posso oferecer a elas é uma experiência narrativa e, acima de tudo, a possibilidade de concretizar a fabricação do design.
Brazil Beauty News - Onde se situa a inovação no segmento de embalagens e frascos?
Alnoor - O principal avanço na área de vidros envolve a reciclagem e a composição desse material, com o uso de pastas mais fluidas e mais transparentes. Os recipientes estão se tornando mais leves, a fim de reduzir a pegada de carbono.
A qualidade dos moldes melhorou muito e já possibilita acabamentos mais finos e angulados. Há cinco ou dez anos, teria sido impossível produzir o frasco do perfume Karl Ikonik. As possibilidades de revestimento do vidro hoje são maiores, permitindo o uso de metal, de acessórios e até de decorações e materiais inéditos. Um bom exemplo é a coleção de perfumes da Dries Van Noten. Em relação às tampas, os hábitos estão mudando, e o vidro é um material capaz de substituir o zamac. As tampas de madeira apareceram já há alguns anos, mas o setor de luxo sempre se mostrou meio reticente a esse material. O olhar vem evoluindo e as referências do trabalho também.
Tenho observado que a inovação está presente sobretudo nos elementos secundários: papel, texturas, materiais incorporados – como cortiça preta ou colorida –, madeira, micélio usado como calço em estojos, e até mesmo polpa empregada em certas embalagens.
Brazil Beauty News - Quais são atualmente as principais diretrizes que orientam o design no setor de perfumes?
Alnoor - O conceito de frasco "perene", que surgiu, inicialmente, com as marcas de nicho, opta pelo uso de frascos de alto padrão que exprimem a identidade da marca, e não a de um perfume.
Paralelamente, observei a chegada de frascos com formas figurativas, frascos-imagens como o da marca Paco Rabanne. Esse tipo de frasco seduz um público que prioriza o hedonismo e o aspecto lúdico. Esse foi o caminho escolhido para o frasco Karl Ikonik. A geração Z e a geração baby boom não apreciam as mesmas marcas, e a evolução do mercado é inelutável.
Brazil Beauty News - Como o senhor trabalha o design?
Alnoor - Meu foco principal é a semântica do produto, bem como a linguagem e o legado da marca. Para além dos argumentos de marketing, analiso os elementos cromáticos, de textura, gráficos e visuais que caracterizam a marca e dialogam com o inconsciente coletivo. Para a Caron, por exemplo, destaquei de forma bem nítida a letra O "quebrada" do logotipo na própria forma dos frascos. No caso da fragrância I Want Choo (Interparfums), busquei criar um frasco que aliasse os calçados e acessórios da marca Jimmy Choo ao universo mais amplo da moda. A forma do frasco lembra o contorno de um vestido, integrando ao mesmo tempo alguns elementos de estilo, como o efeito de brilho dourado. O frasco não se limita ao universo dos calçados. Ele fala também de feminilidade.