Embalagem é um assunto sério no Japão. Traduzida como “embrulhar”, a palavra "tsutsumu" tem como ideograma uma criança dentro do ventre da mãe, o que dá a ideia de proteger aquilo que é precioso e coloca embalagem e conteúdo no mesmo patamar de importância.
Desde 1985, a Japanese Package Design Association realiza o Japan Package Design Awards, premiando embalagens inovadoras pela criatividade, estética, usabilidade e potencial mercadológico. Vencedoras e finalistas da última edição estão na exposição ‘Embalagens: Designs Contemporâneos do Japão’, em cartaz até 14 de março na Japan House São Paulo, na capital paulista.
Embalagens de cosméticos ganham destaque, com participação de mais de 20 marcas de beleza. A Shiseido é uma delas. “É muito gratificante fazermos parte dessa mostra”, afirma a gerente de marca Andrea Olim. “A empresa tem em seu DNA a fusão de arte e ciência, sendo a arte valorizada por meio das embalagens de seus produtos. A exposição também ecoa outro dos valores da Shiseido: Tradição & Modernidade”, ela acrescenta.
Entre as embalagens da marca em exibição estão as da linha de cuidados faciais (Essential Energy, White Lucent Brightening, Uplifting and Firming e Benefiance Wrinkle Smoothing). Sem esboços ou desenhos, o designer moldou a embalagem dos produtos diretamente em argila, com as próprias mãos. Segundo Olim, a inspiração veio da tradicional cerimônia japonesa do chá e suas tigelas artesanais, que encaixam naturalmente nas mãos. “São 64 formas únicas de uma mesma embalagem, com projetos gráficos que primam pelas experiências visuais e táteis a cada nova compra”, ela explica.
Também está na exposição a coleção de batons e esmaltes “Tóquio 24h”, que mostra como as cores e luzes da capital japonesa mudam ao longo de um dia, representadas também por um relógio com ponteiros diferentes em cada produto. Lançada em edição limitada, a linha de pó compacto “Gallery Compact” traz embalagens ilustradas por artistas visuais, explorando o colecionismo e valorizando ainda mais o produto.
Diretora cultural da Japan House São Paulo, Natasha Geenen ressalta o aspecto “clean” e elegante das embalagens de cosméticos. “Há predominância dos tons pastéis e uma grande sofisticação das linhas. Os rótulos são muito delicados e compõem a embalagem de forma harmoniosa”, diz. Um exemplo é a minimalista linha cosméticos de clareadores de manchas White Shot, da POLA.
Geenen destaca a busca por um manuseio agradável do produto, tanto no formato quanto no tamanho. É o caso das ceras para cabelos masculinos da marca Lúcido, que têm um aspecto estriado, facilitando a abertura do recipiente, mesmo com as mãos molhadas. “Outra preocupação é com a imagem do produto no universo online. Considerando que muitas vezes os consumidores postam suas impressões sobre os produtos, os designers também se atentam para criar embalagens que atraiam o olhar nas redes sociais”, ela afirma. O luxuoso sérum B.A Grandluxe III, da POLA, é um dos mais “instagramáveis” da mostra.
A diretora da instituição ressalta ainda a importância de matérias-primas sustentáveis, recicladas e/ou recicláveis. “A linha de produtos da Athletia, por exemplo, é feita com 90% de vidro reciclado, o que ainda é pouco utilizado na indústria de cosméticos. A otimização dos materiais no sentido de minimizar o desperdício e muitas vezes dar um novo significado para as embalagens também chamam a atenção, assim como o uso de refis”.
Para Greenen, apesar das diferenças culturais entre Brasil e Japão, as embalagens apresentadas na exposição poderiam ser facilmente inseridas em nosso mercado. “Seriam um grande sucesso. Vendo a conexão do público com a mostra, percebemos como esta estética atrai, desperta a curiosidade e encanta”, finaliza.