Premium Beauty News - Para os não iniciados, o senhor poderia explicar o conceito de economia circular do plástico?
Gilles Swyngedauw - O princípio da economia circular consiste em pararmos de criar, produzir e consumir de forma linear, obedecendo ao modelo "pegar, usar, jogar fora". Isso implica em reutilizar e reciclar tanto quanto possível.
No que se refere às instalações industriais, as fábricas precisam reduzir o consumo de energia, eliminar o descarte em aterros e reciclar o máximo possível de resíduos. Considerando especificamente as embalagens, o objetivo é continuar mobilizando ferramentas como ecodesign e análises de ciclo de vida para reduzir o impacto sobre o meio ambiente. Agora é hora de reforçar esse compromisso, criando embalagens reutilizáveis e recicláveis e incorporando materiais reciclados aos processos industriais.
O plástico vem sendo usado há décadas na fabricação de embalagens para o setor de beleza e, em muitos aspectos, pode-se dizer que é um material fantástico. Entre outras vantagens, o plástico permite criar as mais variadas formas, é mais leve e econômico, oferece melhor desempenho, protege melhor e é extremamente fácil de usar. A tendência é que essas vantagens sejam ampliadas, pois os progressos nessa área são constantes. As embalagens para produtos de beleza são belas, funcionais, eficazes e de alta qualidade, garantindo a conservação das fórmulas tanto quando o consumidor deixa o produto na prateleira do banheiro como quando transporta numa bolsa ou mala de viagem. Hoje, temos grandes desafios: fazer com que essas embalagens sejam sustentáveis e desenvolver uma economia circular eficaz para o setor de higiene e beleza. Isso significa que toda a cadeia de valor deve ser repensada, mas também todo o ecossistema da nossa sociedade, a fim de reforçar a coleta, a seleção e a reciclagem no final da vida útil.
Premium Beauty News - Efetivamente, o desafio parece imenso, principalmente porque é uma questão que interessa cada vez mais os consumidores.
Gilles Swyngedauw - Sim, e é justamente por isso que não temos tempo a perder. Transparência e responsabilidade se tornaram critérios indispensáveis na hora da compra. A RSE (Responsabilidade Social Empresarial) deixou de ser um simples bônus que o consumidor acha bacana. Além das vantagens evidentes para a sociedade como um todo, priorizar o desenvolvimento sustentável é bom para as empresas: 90% das pessoas interrogadas estariam dispostas a trocar de marca, dando preferência àquelas que apoiam causas sociais ou ambientais. Portanto, enfatizar o impacto positivo de um produto reforça a lealdade e a confiança, tanto por parte dos consumidores como dos funcionários.
Há quatro anos, a Fundação Ellen MacArthur reúne empresas e nações em torno de uma visão positiva: a economia circular para os plásticos. Juntos, a Fundação e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente decidiram dar impulso a essa dinâmica, lançando o Compromisso Global por uma Nova Economia do Plástico. A Albéa assinou esse compromisso e faz questão de honrá-lo plenamente.
Premium Beauty News - Por onde começar?
Gilles Swyngedauw - Como todo mundo sabe, desde 2002 a Albéa considera o desenvolvimento sustentável como um elemento central da estratégia da empresa. Por isso, graças a sua expertise em matéria de ecodesign e às análises de ciclo de vida, vem criando embalagens com menor pegada ambiental — reduzindo o volume de plásticos utilizados, desenvolvendo embalagens recicláveis e utilizando plástico reciclável (PCR) e de fonte renovável. Hoje, desejamos também contribuir ativamente para o desenvolvimento de uma economia circular eficaz no setor de higiene e beleza. Naturalmente, para que as embalagens possam ser recicladas, é necessário que sejam coletadas e encaminhadas aos centros de triagem. O fato de serem objetos geralmente pequenos dificulta um pouco esse processo. Além disso, estamos também buscando soluções baseadas no princípio de refil. Quanto aos plásticos propriamente ditos, é claro que precisaremos substituir os que não são recicláveis, trabalhando em estreita colaboração com os fabricantes.
Premium Beauty News - O senhor poderia dar exemplos concretos?
Gilles Swyngedauw - Exemplo é o que não falta. Um dos mais eloquentes é o Slim Cap + Thin-Wall. Acho difícil encontrar um tubo mais leve que ele. Projetada para ser mais compacta e ter um design diferenciado, a cápsula Slim, fabricada em polipropileno PP, é uma das mais leves do mercado. O peso total do tubo foi reduzido em 33% em relação a cápsulas e bisnagas normais. Isso representa o equivalente a 8,8 toneladas de plástico a menos para a produção de um milhão de Slim Cap + Thin Wall, gerando uma redução de 36 toneladas de CO2 em emissões. A título e comparação, isso equivale a 36 viagens de ida e volta entre Paris e Nova York para uma pessoa. Esses tubos são perfeitamente recicláveis pelas indústrias de PE/PP existentes, contribuindo para a economia circular graças à possível integração de material PCR (Pós-Consumo Reciclado, ou seja, plásticos que já tiveram uma primeira vida útil).
Vale lembrar que o plástico PCR utilizado em nossos tubos é fabricado a partir de embalagens de bebidas ou garrafas de leite que os consumidores usam e encaminham aos centros de reciclagem. A cada ano, a Albéa produz cerca de 33 milhões de tubos em PCR inteiramente recicláveis pelas indústrias de coleta existentes. Até as válvulas de espuma entraram na onda, com o desenvolvimento de uma solução que apresenta tampa, gargalo e botão inteiramente fabricados em plástico PCR.
Desde 2010, produzimos também tubos e garrafas em plástico derivado de fonte renovável. Trata-se de plásticos fabricados a partir de cana-de-açúcar proveniente do Brasil. A cana é um vegetal que consome grande quantidade de CO2 durante o crescimento. Assim sendo, a produção de um quilo de polietileno de fonte renovável absorve, ao todo, 3,09 kg de CO2, e a pegada de carbono resultante da fabricação de plásticos de fonte renovável é 76% inferior à de um tubo de plástico tradicional.
Outro exemplo, desta vez no setor de perfumes, é a nossa válvula recarregável "Spiral". Como ela é equipada com rosca, o frasco, além de recarregável, é reciclável. Em relação às válvulas com rosca de metal tradicionais, a redução da pegada de carbono é de 21%.
Para completar, temos a "My Style Bag", paleta injetada que utiliza um único material (polipropileno) e é composta por uma peça inteiriça, o que facilita consideravelmente a reciclagem. A paleta, que permite economizar cerca de 30% de plástico em relação às paletas tradicionais, é equipada com dobradiça maleável, facilitando a abertura e o fechamento. A "My Style Bag" pode ser usada para fórmulas compactas e emulsionadas, bem como para acessórios de maquiagem. A organização das divisões é inteiramente personalizável.
Muitos outros exemplos ainda virão: nossas equipes de P&D estão trabalhando a todo vapor, e é provável que surjam novos materiais. Evidentemente, nossa ação não se limita aos produtos. Paralelamente, criamos parcerias com o setor de reciclagem, não só na Europa como na Indonésia, onde as infraestruturas de coleta são muitas vezes escassas.
Premium Beauty News - As estatísticas mostram que as coisas não podiam continuar do jeito que estavam.
Gilles Swyngedauw - Exatamente. Como expliquei, o Grupo Albéa está consciente desse problema há muitos anos e vem agindo concretamente em favor do meio ambiente. O consumo de plásticos aumentou exponencialmente no mundo, acompanhando o crescimento da população, a urbanização e o maior acesso aos bens de consumo — e as embalagens fazem parte dessa evolução, naturalmente. É simplesmente impossível ficar de braços cruzados.
Premium Beauty News - Qual será o próximo passo da Albéa?
Gilles Swyngedauw - Recentemente, realizamos um estudo de materialidade do qual participaram não somente nossas equipes, como também nossos interlocutores externos — clientes, fornecedores, investidores, parceiros, etc. O objetivo era identificar os desafios materiais que todos considerassem prioritários para os próximos anos, em termos ambientais e sociais. Graças a essa análise, poderemos atualizar nosso plano estratégico de RSE. A ideia é estruturar os programas, fixar objetivos, avaliar os progressos e, sobretudo, divulgar esses resultados, com total transparência, por meio de um relatório não financeiro especificamente dedicado à RSE.
Para mim, a evolução dos consumidores, das empresas e dos governos em matéria de economia circular deve ser acompanhada por uma mudança fundamental em termos de modelo de funcionamento: precisamos trabalhar de mãos dadas, passar em revista toda a cadeia de valor, ampliar as fronteiras de nossa atuação, compartilhar as informações, os projetos e até as dificuldades, refletir coletivamente e buscar juntos as soluções. O estudo de materialidade e a publicação do relatório de RSE ilustram essa nova realidade. O desafio é imenso e diz respeito a todos nós, como colaboradores, cidadãos e pais de família. Estou plenamente convencido de que precisamos nos unir para vencer esses desafios.