O Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo. Com 11 milhões de toneladas ao ano, está atrás apenas de EUA, China e Índia, segundo estudo do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) divulgado no mês de abril. O país também é um dos que menos recicla este tipo de resíduo, com uma taxa de pouco mais de 1%.
A poluição gerada pelo descarte irregular do plástico é uma preocupação mundial, já que ele pode levar até 100 anos para se decompor na natureza, de acordo com a WWF. Mas o impacto do plástico no meio ambiente começa já na extração de matérias-primas e no seu processo de produção, uma vez que a maioria dos polietilenos têm origem fóssil, como o petróleo e o gás natural.
Desde 2007, a companhia petroquímica brasileira Braskem vem trabalhando com uma alternativa mais sustentável: um plástico elaborado a partir do etanol da cana-de-açúcar. “O plástico verde é o primeiro de fonte renovável do mundo”, afirma Gustavo Sergi, diretor de químicos renováveis da Braskem. “Seu principal diferencial é a contribuição para a redução da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera, pois captura gás carbônico durante seu processo produtivo”. Dados da empresa apontam que cada tonelada de polietileno verde produzida corresponde a mais de três toneladas de CO2 retiradas da atmosfera.
O produto patenteado pela Braskem substitui os plásticos convencionais, não havendo necessidade de investimento em novas máquinas de conversão. “O polietileno verde possui as mesmas propriedades técnicas, desempenho e versatilidade de aplicações do plástico de origem fóssil”, diz Sergi. As soluções atualmente fabricadas estão distribuídas entre famílias de PEAD (polietileno de alta densidade), PEBD (polietileno de baixa densidade) e PEBDL (polietileno de baixa densidade linear), podendo atender aos mais diversos segmentos da indústria.
Com capacidade para produzir 200 mil toneladas ao ano, a planta industrial de plástico verde, localizada no Rio Grande do Sul, já exporta para países da América do Sul, América do Norte, Ásia e Europa. “Mais de 150 marcas espalhadas pelo mundo já utilizam o produto em suas embalagens plásticas”, conta Sergi.
Entre empresas da cadeia de higiene pessoal e cosméticos, ele cita as brasileiras O Boticário e Neutrox. Fora do país, a Shiseido e a BullDog, focada no mercado masculino. “O consumidor final pode reconhecer o plástico verde a partir do selo I’m green™, conquistado pelas marcas que adotaram o material renovável em seus produtos”, explica o diretor da Braskem.
A petroquímica trabalha em outras soluções verdes. “Nosso investimento em pesquisa e inovação conta com a parceria de universidades, centros de pesquisa e empresas privadas, tendo foco em tecnologias que resultem em alternativas de fonte renovável”, afirma Sergi, que revela que o plástico verde gerou também outros produtos sustentáveis. “Os estudos de sua aplicação nos levaram, por exemplo, a uma família de resinas de EVA (copolímero de etileno e acetato de vinila), também produzidas a partir da cana-de-açúcar, que podem ser usadas nos setores calçadista, de artigos esportivos, automotivo, construção civil, entre outros”.
O diretor destaca ainda o início da operação de uma unidade de demonstração pioneira no desenvolvimento de monoetilenoglicol (MEG) a partir do açúcar. A matéria-prima é empregada na indústria têxtil e, principalmente, na fabricação de garrafas PET. A expectativa é grande. Basta lembrar que, a cada minuto, um milhão de garrafas plásticas são vendidas em todo o mundo, de acordo com levantamento de 2016 da Euromonitor.